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Crítica - Rock
Bruce Springsteen lança álbum sem unidade
Em 'High Hopes', cantor americano traz covers, regravações e canções medianas que sobraram de outros discos
Bruce Springsteen sempre gostou de discos temáticos, em que as canções contam uma história ou são ligadas por um tema comum. Por isso é uma surpresa o lançamento de "High Hopes", um álbum formado por versões de músicas de outros artistas, sobras de estúdio e regravações de músicas de discos anteriores.
Não parece haver um tema central no disco ou uma unidade sonora. Ao ser questionado sobre o LP, Springsteen foi evasivo: disse que eram canções boas e que não haviam recebido o tratamento merecido em disco. Talvez só ele mesmo consiga tirar algum sentido do LP, o 18º da carreira --e o mais estranho.
Seu maior parceiro no disco é o guitarrista Tom Morello, do grupo Rage Against the Machine, que toca em oito das doze faixas.
Morello é grande fã de Springsteen e já tocou com ele inúmeras vezes. Mas o estilo do guitarrista, que mistura o peso e a distorção do heavy metal a riffs funkeados e abusa de efeitos sonoros, não parece casar muito com o som "old school" de Bruce, e o resultado, pelo menos neste disco, é um Frankenstein musical. Morello e Bruce são água e azeite.
"The Ghost of Tom Joad", por exemplo: a balada lúgubre que Springsteen gravou em seu disco acústico de 1995 virou um heavy metal épico, com um solo de guitarra exagerado e que beira o ridículo. Parece Bruce fazendo um cover do Muse.
O repertório de "High Hopes" é esquizofrênico: tem duas sobras de estúdio do LP "The Rising" (2002) --"Harry's Place" e "Down in the Hole"-- e duas canções religiosas --"This Is Your Sword" e "Heaven's Wall"-- que provavelmente faziam parte de um disco "gospel" que Springsteen anunciou há alguns anos, mas que nunca foi lançado. Por que Bruce resolveu lançar agora essas canções medianas e abortadas de discos anteriores, só ele sabe.
O LP tem ainda "American Skin (41 Shots)", uma boa canção de protesto --escrita em 2000-- sobre a morte de um imigrante pela polícia de Nova York, e "The Wall", sobre um músico de Nova Jersey que Springsteen admirava e que foi morto no Vietnã.
Há ainda três covers: "High Hopes", um rockabilly de Tim Scott McConell que Bruce já havia gravado uma vez, nos anos 90, e duas ótimas canções de bandas punk dos anos 70: "Just Like Fire Would", do grupo australiano The Saints, e "Dream, Baby Dream", da dupla eletro-punk Suicide. A versão do Suicide é a melhor música do disco, uma balada eletrônica cheia de mistério, que Bruce quase sussurra.