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Crítica romance

Veronica Stigger alterna gêneros em fraca narrativa fragmentada

MARCIO AQUILES CRÍTICO DA FOLHA

Contemplado em dezembro com o Prêmio Literário da Fundação Biblioteca Nacional na categoria romance, "Opisanie Swiata" conta a história de um pai polonês que viaja à Amazônia nos anos 1930 para encontrar um filho doente que desconhece.

Constituída de uma estrutura fragmentária, a obra de Veronica Stigger alterna gêneros textuais diversos --cartas em primeira pessoa, narração, trecho de diário, poema-- com elementos gráficos compostos por fotos, cartões-postais, anúncios de jornal e propagandas de época.

Esse grande mistura, no entanto, emerge mais como elemento decorativo do que como parte de um projeto discursivo-imagético fundamentado.

A narrativa, em si, consiste basicamente de anedotas de viagem ordinárias. Um russo tenta inutilmente abrir a janela emperrada do trem, uma italiana perde seu aracnídeo de estimação, crianças brincam com a vira-lata Margarida no convés.

A história torna-se entediante pela ausência de elementos ficcionalmente ricos. Os fatos retratados não aguçam a curiosidade do porvir. Os capítulos parecem contos autônomos, sem muita unidade de prosa romanesca.

Vez ou outra, pipocam enredos saborosos, como a orgia na cozinha ou a fábula sobre o fazendeiro que enterrava esmeraldas em suas terras.

Mas emoções dos personagens são veladas, não transparecem com volume, e deixam a narrativa como uma somatória de atos lineares.

Em alguns capítulos pontuais, o efeito de nonsense enriquece a trama, como no batismo com os neófitos que nunca cruzaram a linha do Equador, composto por uma série de torturas físicas e psicológicas enfrentadas pelos novatos sob os risos e a indiferença da tripulação.

Existe também um vasto universo de pastiche, citação e alusões à tradição literária que vai de Homero aos modernistas brasileiros, o que enriquece, sem dúvida, a apreciação do leitor arguto.

Mas o repertório vasto e o cruzamento de referências a esmo não são suficientes para garantir ao enredo a densidade literária almejada. Percebe-se a ambição do projeto estético empreendido pela autora, mas não se vê ele materializado na obra.


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