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Crítica romance
Humor de angolano remete à crônica brasileira de costumes
SANTIAGO NAZARIAN ESPECIAL PARA A FOLHAPepetela é o pseudônimo de Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos, escritor angolano que recebeu o Prêmio Camões em 1997, esteve na Flip de 2008 e tem duas dezenas de obras publicadas em seu país.
No Brasil, a editora Leya vem publicando boa parte de sua obra, e agora traz seu romance mais recente, "O Tímido e as Mulheres", recém-lançado em Angola.
Heitor é o "tímido", um aspirante a escritor de "cabelo grande, barba grande, despenteado, um Jesus Cristo Negro". Sua paixão platônica é Marisa, uma radialista sedutora de "seios fartos, uma bunda generosa e lábios carnudos"; que por sua vez é casada com Lucrécio, um filósofo resignado, aprisionado a uma cadeira de rodas.
CRÔNICAS
O que à primeira vista se apresenta como um triângulo amoroso se desdobra numa série de histórias interligadas, num foco narrativo que migra para outros personagens da Luanda dos dias de hoje: o fiscal corrupto, a estudante de história, os amigos boêmios.
Com humor fino e uma sensível observação da sociedade, o autor constrói um texto delicioso que remete muito à crônica de costumes brasileira --passando por Machado de Assis, Nelson Rodrigues e Jorge Amado (este citado nominalmente pelo autor).
A proximidade da realidade angolana com a nossa é instigante, embora tal familiaridade também tire um pouco o brilho do romance.
A esposa voluptuosa com o marido impotente, o protagonista aspirante a escritor, o amigo safo, até o imprescindível cão companheiro do herói --tudo resvala num déjà vu, magistralmente escrito, mas sem grandes novidades.
Como tempero especial temos o português angolano, perfeitamente compreensível (a edição apresenta o texto original, sem adaptações), porém repleto de expressões curiosas e grafias alternativas. Um glossário de cinco páginas ao final desvenda termos como "ngombelador", "ximbeco" e "cassule".
