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Mostra revê feras fantásticas de artista

Primeira exposição póstuma do gravurista Marcello Grassmann, morto há um ano, traz toda a evolução de sua obra

Criador ficou conhecido por suas composições com bichos imaginários e por seus cavaleiros em combate com monstros

SILAS MARTÍ DE SÃO PAULO

No começo, eram mulheres retratadas em chave expressionista, turbilhões quase abstratos entalhados com fúria na madeira e depois impressos em claro-escuros violentos sobre a folha de papel.

Depois, os animais, ou híbridos de gente e bicho, dominam suas composições. São homens-bode, caranguejos de dimensão monstruosa, urubus que devoram carcaças num sertão agreste, porcos que lembram cachorros.

Isso tudo até que cavaleiros em armadura metálica defendessem frágeis princesinhas de toda a ira desse bestiário.

Marcello Grassmann, morto aos 88, no ano passado, arquitetou toda a sua obra, uma das mais expressivas no cenário da gravura no país, em cima desses seres fantásticos que parecem ganhar vulto ainda maior pela natureza dessa técnica --clarões que contornam as figuras num gestual ao mesmo tempo preciso, calculado e errático.

Na primeira mostra póstuma dedicada a Grassmann, a Estação Pinacoteca detalha agora a evolução de toda a sua obra, dos primórdios dos experimentos com xilogravura à maestria da técnica em metal e litografia, que estudou em Viena nos anos 1950.

"Do espontâneo, ele passou para o elaborado", diz Carlos Martins, curador da mostra. "Nas construções mais eruditas, ele faz com que suas criaturas alcancem essa situação romântica de deuses e monstros. Os homens são super-heróis, as princesas são doces, e há sempre um confronto na escuridão."

São trevas calculadas, um efeito que Grassmann criava aplicando tinta sobre a matriz depois do entalhe inicial, o que levava a um efeito aguado nas cores, em gradações de cinza quase transparente a tons de preto absoluto.

Na última sala da mostra, tiragens da mesma gravura em várias etapas da impressão mostram como ele mergulhava toda a cena arquitetada de antemão em densos vórtices dessa tinta escura.

Esse é o ponto em que Grassmann, nas palavras do curador da mostra, atingiu uma "natureza segura" nas imagens que criava, trazendo para fora com mais força a monstruosidade que ele dizia ter em seu inconsciente.

Mesmo que essa seja sua fase madura, essa potência também aparecia em estágios mais crus de sua obra, em especial nas xilogravuras antes de sua viagem à Europa, que já mostravam um artista muito à vontade na condução de um vasto vocabulário de homens e bichos fantásticos.

No fundo, essa é uma arquitetura visual que já estava lá e foi sendo refinada ao longo de sua vida --dos traços rudes de cadáveres e demônios aos berloques nas armaduras de seus cavaleiros.

MARCELLO GRASSMANN
QUANDO de ter. a dom., das 10h às 17h30; até 25/5
ONDE Estação Pinacoteca, lgo. Gal. Osório, 66, tel. (11) 3335-4990
QUANTO R$ 6 (grátis aos sábados)


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