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Crítica documentário
Filme expõe pensamento de Coutinho
'Eduardo Coutinho, 7 de Outubro' entrevista e homenageia o diretor, assassinado no último dia 2
A imagem é que produz a coincidência coisa/palavra. as palavras são quase supérfluas
Em "Eduardo Coutinho, 7 de Outubro", logo no início, um dos personagens de "O Fim e o Princípio" discorre sobre a distância entre palavra verdadeira e palavra falsa. Entrevistado e homenageado, Eduardo Coutinho disseca o pensamento do homem, que coincide com o seu.
Não existe relação direta entre uma janela e a palavra que a designa. O vocábulo é uma convenção, por isso vazio. Entre as coisas e as palavras abre-se um abismo.
Não deixa de ser surpreendente: não é Coutinho um cineasta da fala? Essa atitude estaria ligada diretamente, no entanto, ao pensamento do documentarista, que diz ter renunciado à escrita (o roteiro) há 20 anos.
E também ao método de trabalho que desenvolveu nesse período, resultando num cinema que consistia (para resumir grosseiramente) em escolher pessoas e dialogar com elas.
Desde então coloca-se o paradoxo de "Eduardo Coutinho": os trechos filmados por Coutinho expõem por inteiro seu pensamento. São segmentos em que, invariavelmente, a ideia do cineasta e seu método coincidem.
Como resultado, o que vemos não é bem uma entrevista, nem um encontro, mas a eclosão desse momento formidável em que palavras e coisas coincidem, porque já não são palavras ou coisas, mas, digamos, imagens-ideia.
É o que se vê na sequência da mulher pobre que gosta de coisas finas e Beethoven. Gostos que atribui a sucessivas reencarnações (em "Santo Forte"). Ou ainda nos 23 segundos de silêncio do personagem de "Peões" a quem Coutinho pede que defina o que é ser peão. É o silêncio, a não-palavra, os gestos do homem que expõem a dor indizível de ser peão.
A cada volta à entrevista com o diretor recoloca-se o problema: a cena que acabamos de ver mostra mais de Eduardo Coutinho do que as palavras com que explica o que fez. A imagem dos filmes é que produz a coincidência coisa/palavra. As palavras são quase supérfluas.
"Quase", pois "Eduardo Coutinho" não é desinteressante: é um bom filme sobre um cineasta maior.
E se nos últimos minutos chega a despertar em Coutinho um entusiasmo verdadeiro, que o leva além das palavras, por vezes pode-se lamentar que o filme não se tenha detido em ideias-chave que resumem em boa parte o cinema de Coutinho, como sua opção pela superfície e contra a profundidade.
EDUARDO COUTINHO, 7 DE OUTUBRO
DIREÇÃO Carlos Nader
PRODUÇÃO Brasil, 2013
ONDE Cinesesc
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
AVALIAÇÃO bom