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Crítica Ensaios

Abrangente, obra traz achados até para o leitor familiarizado

MANUEL DA COSTA PINTO COLUNISTA DA FOLHA

Quando se fala da relação de Freud com a literatura, é quase obrigatório lembrar que o único reconhecimento oficial que o criador da psicanálise recebeu em vida foi o Prêmio Goethe, em 1930.

Honraria dúbia: embora não fosse uma premiação exclusivamente literária, iluminava o ímpeto "fáustico" de sua obra. E, com isso, talvez colocasse em segundo plano (ou, em termos psicanalíticos, "recalcasse") o que nela havia de mais perturbador.

Ao mesmo tempo, há justiça poética nessa homenagem que equipara o gênio freudiano ao do "Dichter", do "criador literário". "Freud com os Escritores" começa justamente assinalando a especificidade (no limite, intraduzível) do termo alemão "Dichter", que designa aquele capaz de conferir às palavras o dom de revelar o ser.

E é essa mesma qualidade "poiética", de "fazedor" de mundos, que surge dos encontros de Freud com Shakespeare e Dostoiévski, Goethe e Schiller, de sua interlocução (sobretudo por cartas) com escritores como Arthur Schnitzler, Romain Rolland, Thomas Mann e Stefan Zweig.

Os ensaios de Mango e Pontalis não foram feitos a quatro mãos. Ao final dos textos, as iniciais indicam a autoria de cada um, e logo percebe-se a diferença de abordagem --mais literária e conceitual no primeiro, mais metapsicanalítica no segundo.

Abrangentes ao apresentar como cada autor impregnou a escrita freudiana, os ensaios trazem achados até para o leitor familiarizado com psicanálise. É o caso do conceito de "Trieb", inicialmente traduzido como "instinto" e cujo sentido de "pulsão" aparece antes em Schiller.

Assim como o "Unheimlich" ("sinistro" ou "inquietante estranheza", como prefere Mango), que Freud formula a partir de Hoffmann, indica como a literatura "preparou' a língua alemã para tornar-se o vernáculo do pensamento de Freud".

Nos capítulos sobre Goethe e Schnitzler vemos quase a antecipação da "pulsão de morte", que corresponde à última e mais complexa tópica psicanalítica. Mas é através de Mann que passamos a ver "um romantismo que se tornou científico" sob o projeto iluminista da psicanálise.

FREUD COM OS ESCRITORES
AUTORES J.-B. Pontalis e Edmundo Gómez Mango
TRADUÇÃO André Telles
EDITORA Três Estrelas
QUANTO R$ 39,90 (304 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo


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