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Freud se nutriu de Shakespeare, diz autor

De acordo com pesquisador, Hamlet era visto como a figura mais representativa do complexo de Édipo na literatura

Austríaco 'admirava como Zweig e Schnitzler transmitiam tendências do psiquismo humano', assinala Gómez Mango

DA COLUNISTA DA FOLHA

Leia, a seguir, a continuação da entrevista de Edmundo Gómez Mango --autor, com J.-B. Pontalis, de "Freud com os Escritores".

Folha - Os ensaios do livro tratam em grande medida da relação de Freud com o pensamento dos autores citados. Há também aproximação em relação ao estilo narrativo?

Edmundo Gómez Mango - Quase no início de sua obra, Freud reconhece que, para descrever o que se dá na vida psíquica dos pacientes, para transmitir a clínica da neurose que está descobrindo, deve fazê-lo como os escritores, e não como os psiquiatras ou neurologistas da época. "Me assombra", diz, "que minhas histórias clínicas sejam lidas como romances".

Quando tenta se aproximar dos processos psicológicos que descobre no fundo dos sintomas neuróticos, aproxima-se quase involuntariamente dos escritores. Admira como seus contemporâneos, Stefan Zweig, Arthur Schnitzler (a quem via como um "duplo" de si mesmo), Thomas Mann, são capazes, aparentemente sem esforço, de transmitir as tendências mais poderosas e obscuras do psiquismo humano.

Também quando Freud narra seus próprios sonhos, é capaz de ceder sua pena de investigador ao "escritor poeta" que abrigava dentro de si.

Essa dualidade, escritor científico e literário, mantém viva até hoje a obra que revolucionou a concepção do homem moderno.

Dos autores citados no livro, quais tiveram maior influência sobre a obra de Freud?

J.-B. Pontalis aponta, com razão, que, para além das várias referências à obra de Shakespeare, Freud parece ter se "nutrido" dele, como se o tivesse "incorporado". Assim que define como "complexo de Édipo", além da referência à tragédia de Sófocles, convoca Hamlet como figura que mais bem o representa na literatura, exemplo do "neurótico universalmente célebre".

Sobre Goethe, Freud confessa ter se voltado à medicina após escutar o poema "A Natureza", então atribuído a ele. É talvez o poeta mais presente na obra de Freud, que chegou a enumerar os aspectos do escritor que mais influenciaram seu pensamento, como a compreensão da influência de impressões infantis e a concepção de amor. Freud considera Mefistófeles, personagem do "Fausto" goethiano, a encarnação de uma de suas ideias mais discutidas, a "pulsão da morte".

Em Schiller, encontrou a antecipação de sua ideia do primeiro dualismo pulsional, entre as pulsões que se dirigem ao objeto, como "a fome e o amor", e as narcisistas, ligadas ao "eu".


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