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Crítica fantasia

Novo George R.R. Martin é fiel à mentalidade medieval

'O Cavaleiro dos Sete Reinos' se passa 90 anos antes de 'Game of Thrones'

REINALDO JOSÉ LOPES COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Você já viu esse filme (literalmente) em "Coração de Cavaleiro", com o saudoso ator australiano Heath Ledger (1979-2008).

Um cavaleiro andante em fim de carreira, com desempenho apenas mediano em torneios e campos de batalha, bate as botas de repente, deixando cavalos, armadura e alguns trocados nas mãos de seu escudeiro de origem plebeia. O rapaz, claro, não resiste à tentação de bancar o paladino a cavalo.

Esse é o ponto de partida do livro "O Cavaleiro dos Sete Reinos", que reúne três novelas do escritor americano George R.R. Martin, a mente por trás dos best-sellers de fantasia "As Crônicas de Gelo e Fogo" e da série de TV "Game of Thrones".

As aventuras do escudeiro Dunk --ou melhor, Sor Duncan, o Alto, como ele resolve se denominar depois de adotar clandestinamente o manto cavalheiresco-- acontecem no mesmo continente ficcional de Westeros que é o principal palco das séries, 90 anos antes de as histórias mais conhecidas começarem.

Com a premissa aparentemente manjada e o ar de coletânea, seria natural inferir que as novelas são obras relativamente menores (tanto em tamanho quanto em qualidade) perto dos cinco calhamaços de "As Crônicas de Gelo e Fogo".

Dá para argumentar, no entanto, que as histórias de Sor Duncan e seu escudeiro Egg talvez sejam as melhores histórias de Westeros que Martin já escreveu.

MAIS INTIMISTA

A questão é que, apesar do enorme elenco de personagens cativantes e das muitas paisagens fantásticas, a série principal (que ainda terá mais dois volumes, sem previsão de lançamento) tem algo de hipertrofiada. Não é brincadeira amarrar tantas tramas paralelas ao longo de vários anos, e o leitor menos obsessivo-compulsivo às vezes acaba se perdendo.

Em "O Cavaleiro dos Sete Reinos", por outro lado, o foco nos personagens é muito mais fechado e claro. Em vez do "jogo dos tronos" envolvendo princesas exiladas e reis cruéis, o novo livro lida principalmente com os pequenos dilemas de cavaleiros pobretões, tentando encher a barriga de torneio em torneio ou servindo a nobres falidos em troca de um lugar para passar a noite.

Não que a intriga política esteja totalmente ausente das três histórias --a começar pelo fato de que o escudeiro Egg é, na verdade, o jovem príncipe Aegon Targaryen, membro da família de domadores de dragões que unificou os sete reinos de Westeros num único império.

A tensão e a amizade entre a dupla --Egg volta e meia quer pedir a ajuda de seus parentes reais, Sor Duncan não se esquiva a dar tapões na orelha do garoto quando julga necessário --estão entre os elementos mais divertidos do livro.

Em vez da guerra de todos contra todos de "As Crônicas de Gelo e Fogo", o novo livro retrata conflitos mais comezinhos, mas nem por isso menos dilaceradores.

É nesse ponto, aliás, que a obra mostra como Martin digeriu habilmente suas fontes medievais --por estranho que isso possa soar, é um dos livros de fantasia modernos que transmite com maior fidelidade como a cabeça medieval funcionava.

É que muitas das grandes obras da literatura medieval são, no fundo, tragédias sobre lealdades divididas. É fácil falar da nobreza do código de honra cavalheiresco, mas o que acontece se o sujeito fica dividido entre evitar ofensas a essa honra e preservar vidas, entre manter os votos de servir a um senhor e fazer o que é certo?

São situações desse tipo que o livro examina, de um jeito que não faria má figura diante dos autores do ciclo da Távola Redonda.

O CAVALEIRO DOS SETE REINOS
AUTOR George R.R. Martin
TRADUÇÃO Márcia Blasques
EDITORA Leya
QUANTO R$ 49,90 (416 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo


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