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Crítica Contos

Livro de contos de Will Self exige estômago dos leitores

'O Self Essencial' tem histórias pilotadas pela língua ferina do autor inglês

CADÃO VOLPATO ESPECIAL PARA A FOLHA

Aos 52 anos, o escritor britânico Will Self ainda responde pela reputação de garoto-problema. Nas últimas semanas, Self apareceu na TV inglesa como uma espécie de especialista em drogas, falando sobre a morte do ator americano Philip Seymour Hoffman, supostamente por overdose de heroína.

Explica-se: em 1997, Self foi apanhado usando heroína no avião do então primeiro-ministro John Major, em campanha pela reeleição. Perdeu o emprego no jornal "The Observer", mas seguiu em frente. Hoje, é um personagem conhecido da televisão, e não só pela especialidade química. Self também entende de comida de rua, de psicanálise e de literatura. Ele é punk por fora, mas formado em Oxford por dentro.

Seus livros, alguns deles lançados no Brasil, refletem essa dualidade tipicamente britânica. Self pega pesado nos temas --que vão das drogas à loucura, passando por estranhas obsessões corpóreas--, mas usa a forma consagrada por satiristas antigos como Jonathan Swift (1667-1745) e grandes e estranhos autores como J. G. Ballard (1930-2009), William Burroughs (1914-1997) e Louis-Ferdinand Céline (1894-1961), só para ficar nas suas influências confessas.

"O Self Essencial" reúne alguns contos sombrios, sarcásticos e delirantes, escritos desde o começo da carreira nos anos 1990, e uma novela, "Leberknödel", que originalmente pertence a um livro voltado para o fígado ("Liver: A Fictional Organ with a Surface Anatomy of Four Lobes", fígado: um órgão fictício com um superfície anatômica de quatro lobos), esse órgão tão detonado pelos "junkies".

Nessa história, uma mulher em estado terminal viaja da Suíça para a Inglaterra em busca da eutanásia. "Leberknödel" é um prato alemão com bolinhos de fígado.

Os contos alternam temas não menos fortes, e são pilotados com a mesma língua ferina. É preciso estômago para ler Will Self. Mas ele também oferece o remédio do humor.

No conto "A Pedra de Crack Grande que nem o Ritz", dois irmãos descobrem a tal droga no porão, parafraseando o conto famoso de F. Scott Fitzgerald (1896-1940), "O Diamante tão Grande quanto o Ritz".

Em outra história, "Compreendendo os Ur-Bororos", um ex-colega de escola meticuloso relata ao narrador o seu contato com a tribo amazônica nos seguintes termos: "Os ur-bororos são objetivamente tediosos". Ou, segundo eles mesmos, "as pessoas por quem você não ia querer ser alugado numa festa".

Já o amigo "estava no processo de se tornar uma celebridade menor --o tipo de acadêmico pop que o público em geral acolhe de tempos em tempos e transforma numa personalidade televisiva".

Tudo isso é bem Will Self, cujo universo está resumido nesse livro intrigante de histórias longas e curtas.

O SELF ESSENCIAL
AUTOR Will Self
TRADUÇÃO Cássio de Arantes Leite
EDITORA Alfaguara
QUANTO R$ 42,90 (296 págs.)
AVALIAÇÃO bom


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