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Livro mostra como se inventa um artista

Em enciclopédia criada para tese de mestrado, Bruno Moreschi revela e realiza o truque da arte contemporânea

Feita para discutir o que legitima o trabalho criativo, obra também faz parte dos padrões correntes de produção

IARA BIDERMAN DE SÃO PAULO

Acorrentado como um animal, o iraquiano Abdul-Rafi Fayad, 48, percorreu uma sala da Bienal de Veneza de 2011 tentando morder os visitantes que se aproximavam ""e chegou a ferir alguns.

O brasileiro William Amaral, 50, ator e palhaço, tem 20 anos de palco. Em seu último trabalho, "O Processo de Giordano Bruno", de 2012, fez o papel de inquisidor.

Fayad e Amaral se encontraram para uma sessão de fotos na Oficina Oswald de Andrade, em São Paulo, no ano passado. Mas quem está nas fotos acorrentado é Amaral. Fayad é uma obra de ficção.

Com outras 49 criaturas fictícias e suas criações, Fayad faz parte do livro "Art Book "" 50 Contemporary Artists", organizado pelo artista e pesquisador Bruno Moreschi, 32. O volume de luxo trilíngue (português, inglês e espanhol) apresenta biografias e declarações desses artistas e fotos de suas obras (311, entre pinturas, fotos e performances).

Estão lá, além do performer polêmico de origem islâmica, o latino-americano que brinca com símbolos da cultura popular, o japonês minimalista, o alemão conceitual e outros clichês da arte atual.

O livro é o produto da tese de mestrado de Moreschi, "A construção de uma enciclopédia de artistas", defendida em janeiro no Instituto de Artes da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

A pesquisa começou com o levamento dos padrões mais recorrentes em dez enciclopédias de arte para discutir o que legitima uma obra ou um artista hoje.

"É um sistema: discurso da crítica e do artista, lugares onde expõe, em que publicações aparece", diz Moreschi.

No livro, os textos e as obras (feitas e fotografadas pelo autor) reproduzem esse sistema de uma forma que supera a simples paródia.

"Vários artistas são muitos convincentes. Você encontra no livro um bocado de gente conhecida", diz o crítico e curador de arte Agnaldo Farias.

Para Farias, a liberdade na produção artística hoje é tão grande que torna plausíveis as invenções da obra.

"O livro é uma espécie de desmontagem dos processos criativos da arte contemporânea. Mas, ao mesmo tempo em que Moreschi cria dúvidas, ele reafirma esses processos, porque também faz parte deles", afirma o curador Paulo Miyada.

"Não foi minha intenção fazer uma obra puramente crítica. É também uma forma de problematizar minha própria produção", diz Moreschi.

Com auxílio de uma bolsa da Fapesp e de dois editais, ele imprimiu 50 exemplares do livro. A maioria será doada para bibliotecas e cinco serão usados em exposições, como a que fará em março, na Funarte de São Paulo.

"A minha primeira mostra individual será uma coletiva", diz, já que obras das criaturas da enciclopédia estarão expostas ao lado de outros trabalhos de Moreschi.


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