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Museu publica lista original de 'arte degenerada' criada pelos nazistas

Documento agora disponível on-line lista as 16 mil obras confiscadas e vendidas pelo regime

Pai de Cornelius Gurlitt, que teve coleção suspeita apreendida, aparece na lista como comprador de peças

SILAS MARTÍ DE SÃO PAULO

No auge do alvoroço causado pela apreensão das mais de mil obras de Cornelius Gurlitt, suspeitas de terem sido roubadas de judeus durante o nazismo, o museu Victoria and Albert, de Londres, acaba de publicar on-line a lista integral de exemplares de "arte degenerada" compilada em 1941 por agentes a serviço de Adolf Hitler.

Nesse documento, já baixado mais de 2.000 vezes desde o fim de janeiro, aparecem 16 mil obras de arte que o antigo Ministério da Propaganda do Reich confiscou de museus públicos alemães.

Muitas das peças, entre elas obras do expressionista alemão Max Beckmann, aparecem na lista associadas ao nome Dr. Gurlitt --no caso, Hildebrand Gurlitt, pai do marchand agora investigado por autoridades na Alemanha e na Áustria por ter em seu poder um conjunto de obras que podem ter sido compradas de forma ilegal à época.

"É mesmo uma surpresa que essa coleção tenha ficado tanto tempo escondida", diz à Folha Douglas Dodds, curador do Victoria and Albert. "E o nome Gurlitt aparece muitas vezes na lista."

Isso mostra que Hildebrand Gurlitt era um ávido comprador de obras consideradas "degeneradas" pelo regime --em especial de arte moderna, que não se enquadrava no gosto de Hitler.

OBRAS EM MUNIQUE

Também joga luz sobre a origem de muitas das obras encontradas no apartamento de seu filho, Cornelius Gurlitt, em Munique, há dois anos, e neste ano em outra residência dele na Áustria.

"Muitas das peças no inventário do regime estão entre as que foram encontradas em Munique", diz Dodds.

Embora a famosa lista de arte degenerada esteja na coleção do museu londrino desde os anos 1990, doada pela viúva de um marchand austríaco que fugiu para Londres durante o nazismo, ela não estava disponível ao público.

Julian Radcliffe, diretor do Art Loss Register, a maior base de dados de obras perdidas e roubadas no mundo, acredita que a publicação desses documentos ajuda a elucidar casos de obras roubadas pelo regime nazista. "Já sabemos quem são alguns dos herdeiros dos proprietários dessas peças", diz Radcliffe. "Mas acho difícil reaver as obras por enquanto, já que deverão ficar com a polícia até o fim das investigações."

Desde que a polícia apreendeu as obras de Gurlitt e divulgou a lista dos trabalhos encontrados, pelo menos quatro herdeiros já se manifestaram e tentam recuperar suas obras, entre elas pinturas de Matisse e Canaletto.

Num site criado na semana passada, a defesa de Cornelius Gurlitt afirma que o marchand está disposto a negociar com esses herdeiros, mas estima que só 3% das obras de sua coleção possam ser fruto de saques ou roubos.

É um dado que diverge das estimativas oficiais do governo alemão, que destacou um time de especialistas para estudar a procedência das peças. Segundo os investigadores, cerca de 460 das obras podem ter chegado a Gurlitt pelas mãos dos nazistas.

Mas Radcliffe critica a demora do governo em agir. "Eles ainda não entenderam as possíveis consequências internacionais desse caso."


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