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Crítica romance

Argentino repete ingredientes em suspense policial histórico

A tortura dá-se aqui mesmo, àqueles que se obrigam à leitura do novo livro de Andahazi

JOCA REINERS TERRON ESPECIAL PARA A FOLHA

O argentino Federico Andahazi ficou conhecido pela aplicação da mesma fórmula a todos os seus romances.

Salvaria-se da fogueira das mediocridades se fosse legítima, mas nem isso: escreve romances históricos, variante ficcional tão antiga quanto o "Ivanhoé", de Walter Scott (que marca o surgimento do gênero no século 19, segundo Georg Lukács).

Com "O Livro dos Prazeres Proibidos", dilui sua "receita pessoal", repetindo ingredientes que fizeram seu romance "O Anatomista" (1997) obter sucesso nas prateleiras: erotismo de almanaque somado à pesquisa histórica em fascículos de banca de jornal que resultam num aguado suspense policial de araque.

Não chega a ser pecado mortal, porém, cozinhar ficçõezinhas superficiais para atender o mau gosto das massas e a mercancia editorial.

É improvável que por tão pouco o diabo tenha criado fornalha específica para esse tipo de escritor. A tortura dá-se aqui mesmo, àqueles que se obrigam à leitura do autor.

Seu estilo, marcado pelo andamento afrescalhado com predileção pela ordem inversa e predicados pomposos, faz parecer dolorosa qualquer chance de vislumbre original por meio da oração direta.

Gutenberg, ele mesmo, o inventor da prensa, é julgado em 1455 pelo tribunal da Santa Igreja, acusado de falsificação de bíblias.

É razoável atentar para o fato de que os acontecimentos que o levaram a essa situação, em aparência desconexos, ocasionalmente "estão ligados pelas cordas invisíveis do acaso e do destino".

A cascata de clichês jorra do início ao fim do livro, com "breve prelúdio", "crime cruel" e "rígidas regras".

Em paralelo à denúncia feita pelo "loquaz acusador" Sigfrido de Mogúncia, prostitutas são assassinadas no mosteiro da Sagrada Canasta, bordel onde o sexo é temperado de ritos pagãos.

A cafetina se chama Ulva e "sabia combinar a amorosa doçura materna" com a "autoridade mítica de uma madre superiora", mas não me prestarei a trocadilhos.

Limitado pelo amor à obviedade, Andahazi faz escolhas erradas. Não pode ser acusado de original nem pela pior delas, a tentativa de emular a dicção passadista da Mogúncia do século 14, recurso adotado pela maioria dos romancistas históricos.

Igualmente, não é desonesto, anunciando desde o título de seu livro aquilo que proibirá ao leitor: o prazer.

O LIVRO DOS PRAZERES PROIBIDOS
AUTOR Federico Andahazi
TRADUÇÃO Luíz Carlos Cabral
EDITORA Bertrand Brasil
QUANTO R$ 30 (294 págs.)
AVALIAÇÃO ruim


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