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Crítica - Drama

Produção guiada por música é feijão com arroz bem feito

SÉRGIO ALPENDRE COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Uma sequência exemplifica à perfeição este belo "A Música Nunca Parou". Gabriel Sawyer (Lou Taylor Pucci), rapaz que teve boa parte de sua memória apagada por um tumor cerebral, empolga-se com o início de "A Marselhesa", hino da França.

Dianne Daley (Julia Ormond), a terapeuta musical que é chamada para cuidar dele, percebe que a empolgação só permanece durante o primeiro verso da música, e fica intrigada.

Por acaso, ela descobre (ou relembra) que "All You Need Is Love", sucesso de 1967 dos Beatles, tem justamente o primeiro verso do hino francês como introdução. Bingo. O efeito da canção é devastador, e vai desencadear todo um processo de recuperação na mente do jovem.

Gabriel continua esquecendo a maior parte dos acontecimentos recentes, mas é sabido agora que pode lembrar de algo que se relacione a um forte momento musical.

O filme conta uma história real, conforme relatada pelo neurologista Oliver Sacks no longo artigo "The Last Hippie". A direção coube ao estreante Jim Kohlberg, que faz o que a maioria dos cineastas atuais não consegue (incluindo aí muitos cineastas celebrados hoje em dia): pensar seu filme na câmera.

Ou seja, há uma preocupação com o que a câmera filma, com o que ela capta dentro do espaço no qual acontece toda a encenação. É o feijão com arroz da mise-en-scène, mas pensado com cuidado.

O filme vale também por ter como protagonista um ator que normalmente brilha como coadjuvante (principalmente como o jornalista que combate o Homem-Aranha na trilogia de Sam Raimi): J.K.Simmons, que faz Henry Sawyer, o pai de Gabriel.

O momento mais emocionante (ao lado daquele dos Beatles) é quando Henry consegue dois ingressos para um show esgotado do Grateful Dead, banda preferida de Gabriel e ainda na ativa na segunda metade dos anos 1980 (quando a história se desenrola). Na apresentação, pai e filho podem finalmente selar uma relação de cumplicidade e molecagem.

"A Música Nunca Parou" revela-se, assim, um melodrama na tradição familiar mais ou menos recente de "Kramer vs. Kramer" (1979) ou "Gente como a Gente" (1980), mas no qual a música (do grego "melos" --elemento importante do gênero) é realmente fundamental.


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