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Luiz Gama defendeu negros nos tribunais e libertou mais de 500

Para estudiosos, parte de sua história pode ter sido inventada para denunciar ilegalidades

Retrato do abolicionista reflete momento de transformação social vivida pelo país em meados do século 19

DE SÃO PAULO

Os estudiosos de Luiz Gama insistem que sua história pode revelar mais do que uma trajetória pessoal épica.

Para os historiadores, seu retrato mostraria como o Brasil vivia um momento de intensa transformação social em meados do século 19.

"Na Bahia, havia muita mobilidade, famílias compostas fora do padrão, como a de Luiz Gama, e abertura em termos culturais e morais por causa do porto de Salvador, um dos mais importantes do mundo então", diz a escritora Ana Maria Gonçalves.

"Fã incondicional" de Gama, João José Reis ("A Morte É uma Festa"), o mais importante historiador da escravidão brasileira, diz que nem tudo o que o abolicionista contava sobre si pode ser confirmado com documentos --e que muito daquilo pode ser uma fábula construída.

Por exemplo, Gama dizia ser filho de Luiza Mahin, uma figura símbolo do feminismo negro que teria lutado na Revolta dos Malês (1835).

"Existe a possibilidade de que tenha escrito uma história exemplar e extrema para denunciar casos de escravização ilegal de pessoas livres por ele defendidas nos tribunais", afirma Reis à Folha. Gama foi responsável por libertar mais de 500 negros, a quem prestava serviços grátis como advogado.

"Para pensar o Brasil de hoje, talvez Gama seja mais importante como símbolo do que Zumbi", diz Lígia Fonseca Ferreira. Hoje lembrado em São Paulo apenas pelo meio jurídico, pela maçonaria e por historiadores, o semblante altivo do busto que está no largo do Arouche foi um herói de seu tempo.

Morto aos 52 anos, em São Paulo, a seu enterro, no cemitério da Consolação, compareceram mais de 3.000 pessoas. "Escravos e ex-escravos batiam-se com conhecidos escravocratas para carregar seu caixão", conta Ferreira.

"Sua história é talvez mais inspiradora do que a de 12 Anos', porque ele se colocou na linha de frente do abolicionismo. É uma dramaticidade incrível. Eu quero muito ver esse filme", diz Reis.

O historiador reforça que os arquivos brasileiros estão cheios de "relatos incríveis de pessoas ilegalmente escravizadas" que não teriam sido contados porque abolicionistas brasileiros "preferiram falar pelos escravos".

Já Gonçalves conta, ainda, que era comum negros livres se fazerem passar por escravos, também, para não serem alvo de sequestros e maus-tratos.


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