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Crítica - Romance

Gonçalo M. Tavares se destaca por série de achados narrativos

'Matteo Perdeu o Emprego' remete a Perec, mestre de restrições e encaixes

ADRIANO SCHWARTZ ESPECIAL PARA A FOLHA

"Matteo Perdeu o Emprego", de Gonçalo M. Tavares, possui duas partes bem distintas. Na primeira, 25 capítulos curtos apresentam, em ordem alfabética, 25 diferentes personagens (Aaronson, Ashley, Baumann, Boiman, Camer...), até chegar ao Matteo, que dá nome ao livro e ganha um capítulo alongado, subdividido em 12 pedaços.

De algum modo, o personagem do capítulo seguinte sempre é mencionado no capítulo anterior, num jogo de restrições e encaixes que remete diretamente ao mestre desse jogo, o francês Georges Perec.

Na segunda parte --um longo posfácio--, uma voz discorre sobre os eventos e pessoas da parte anterior, buscando nexos, apontando problemas, arbitrariedades.

E o leitor (pelo menos este leitor) fica esperando que aquele posfácio de algum modo faça parte do jogo de um jeito mais elaborado, que se enquadre ficcionalmente, que não seja apenas uma espécie de crítica da obra na própria obra a refletir sobre os seus limites. Infelizmente não é o que acontece.

No conjunto, o livro está em dia com uma série de experimentos artísticos que buscam confrontar as possibilidades da ficção na atualidade e o lugar do debate de ideias nesta ficção. É o que faz, com mais sucesso, J. M. Coetzee em "Diário de um Ano Ruim", por exemplo.

Ainda assim, o livro vale, muito, por uma série de imagens e achados narrativos que se sucedem de maneira impressionante naqueles 25 capítulos iniciais: do homem que vai a uma prostituta com uma imensa bateria externa ligada a seu coração ao personagem que ia ao cinema e fechava os olhos para "assistir" ao filme com um novo e intenso tipo de atenção.

Há no texto de Gonçalo M. Tavares uma carga de invenção, de fabulação, que é espetacular. Para muita gente, isso não é mais suficiente; para mim, é sempre motivo de espanto e alegria.


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