Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Ilustrada

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Bienal em NY tenta dar cara aos EUA, país em mutação

Mostra mais tradicional de arte contemporânea valoriza produção à mão e obras com presença física

Exposição no museu Whitney, aberta até 25/5, fomenta o debate de questões raciais, políticas e de gênero

SILAS MARTÍ EM NOVA YORK

Um retrato de Barack Obama abre um dos andares da Bienal do Whitney. Não é à toa que o rosto negro do presidente americano está ali, como um símbolo dessa era.

Na mostra mais tradicional de arte contemporânea dos EUA, aberta na semana passada no museu Whitney, em Nova York, em cartaz até 25 de maio, obras de mais de cem artistas norte-americanos ou radicados nos EUA tentam dar uma cara ao país, seja ela negra, branca, andrógina ou transexual.

Da fotografia de Obama, um trabalho de Dawoud Bey, à vertiginosa série de autorretratos de Zackary Drucker e Rhys Ernst, em que o casal de artistas jovens documenta a própria troca de sexo ao longo das imagens, a mostra tenta plasmar um retrato de uma América em mutação.

Questões raciais, políticas e um debate sobre gênero atravessam a exposição, ao mesmo tempo em que os trabalhos de alguns dos nomes mais badalados da cena americana atual mergulham num formalismo renovado, com muita cerâmica, bordados e obras feitas à mão.

Isso fica claro já no elevador do museu, em que o artista Jeff Gibson instalou um vídeo mostrando objetos banais, de linguiças a óculos escuros, sublinhados com frases como "uma defesa estoica contra a escalada de sentimentos negativos".

É como se na ressaca da arte conceitual, da performance e do minimalismo, artistas fizessem as pazes, mesmo que um tanto problemáticas, com os objetos, fetichizando a ideia de obras com grande presença física.

ARTE MANUAL

Sterling Ruby, um dos nomes mais valorizados do cenário atual, parece seguir e ao mesmo tempo atacar essa tendência. Ele exibe uma série de vasos disformes de cerâmica feitos dos restos de outras peças que deram errado na hora de moldar, como se do fracasso pudesse surgir algo válido e vendável.

Na mesma linha, Sheila Hicks, que esteve na última Bienal de São Paulo, domina uma das salas com uma cascata de tecidos coloridos, uma ode ao trabalho manual com uma avalanche de volumes que despertam em qualquer um a vontade de tocar.

Duas obras também opõem sensações táteis à força renovada da pintura na arte contemporânea.

Enquanto Dona Nelson costura suas telas, com linhas de tecido que atravessam os quadros, Ken Okiishi faz vídeos exibidos em monitores cobertos de tinta, criando um diálogo entre o meio estático e imagens em movimento.

Gary Indiana leva esse discurso a um patamar mais denso, com uma obra em que contrapõe imagens de águas-vivas no mar ao ambiente de uma prisão desativada em Cuba e retratos de jovens nus, todos negros ou latinos e vistos aqui como prisioneiros em potencial.

"Vivemos num momento em que toda a história está acessível com um toque na tela", diz Stuart Comer, um dos curadores da mostra. "Isso levanta questões sobre como os museus devem trabalhar e o que acontece com os objetos feitos à mão."

Nesse ponto, a mostra do Whitney parece retomar o discurso das últimas bienais de Veneza e São Paulo, que puseram a presença do objeto em perspectiva, em especial a exibição de arquivos pessoais como obras de arte.

No museu nova-iorquino, mesmo artistas que criaram obras efêmeras ou músicos e escritores são reverenciados com exposições massivas de seus cadernos, desenhos e anotações, como é o caso do romancista David Foster Wallace, morto há seis anos.

De certa forma, há uma repetição de uma tendência global. Mas isso mostra também os poderes do mercado em ação. Objetos vendem mais do que ideias --e não por acaso a casa de leilões Sotheby's é um dos patrocinadores dessa exposição.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página