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Crítica - Música erudita
Marin Alsop soma grandeza à perfeição em abertura do ano
SIDNEY MOLINA CRÍTICO DA FOLHAO embate entre grandeza e perfeição pode ser um critério estético útil para aproximar as obras dos compositores Rachmaninov (1873-1943) e Saint-Saëns (1835-1921), diferentes em tantos aspectos.
Sob a regência de Marin Alsop, o "Concerto nº 2 para Piano" (do russo) e a "Sinfonia nº 3" (do francês) foram o coração do concerto de abertura da temporada da Osesp.
Antes, o coro da orquestra (preparado por Naomi Munakata) fez a "abertura da abertura", a "Missa Brevis" de Leonard Bernstein (1918-1990).
Em pouco mais de dez minutos, o compositor judeu passa a limpo o rito cristão. A textura está entre o medieval ("Kyrie", "Sanctus") e a renascença ("Gloria"). Foi cantado com afinação perfeita e ampla dinâmica.
Com intervenções da percussão dos dois lados do palco, ao coro misto "a cappella" somou-se a límpida e ressoante voz do contratenor Paulo Mestre --a evocar a catedral francesa de Notre Dame no século 12, bem longe dos americanismos típicos de Bernstein.
Solado com experiência pelo premiado pianista Garrick Ohlsson, o concerto de Rachmaninov busca o grandioso sem medo, sacrifica tudo pela sublimidade dos pontos culminantes.
Marin Alsop arredondou e equalizou notavelmente o som da orquestra --amplo, cheio de harmônicos. Destacou linhas nunca ouvidas no primeiro movimento, arrumou a casa para o piano fazer música no segundo e correu riscos calculados no finale.
Muito aplaudido, Ohlsson voltou para a "Valsa" op.64 nº 2" de Chopin (1810-1849), tocada com a liberdade de uma seresta brasileira, brincando com o tempo, inventando ênfases, fazendo cada repetição soar uma variação.
Perfeição formal é a chave da música de Saint-Saëns. Tudo nela é transparente e calculado --como a menção, no primeiro movimento, da melodia que irá tomar conta do final.
Com a presença de órgão e piano, a "Sinfonia nº 3" é música virtuosística, e foi tocada com madeiras impecáveis e timbre aveludado das cordas. Alsop regeu de memória --com a técnica habitual, mas com paixão nova, mais dolorida. Somou grandeza à perfeição.