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Masp vai exibir maior paisagem de Frans Post

Pintura do século 17 foi restaurada pelo Rijksmuseum, em Amsterdã

Tela de 3 metros de altura chega em junho a São Paulo e será exposta junto a outro quadro do holandês

SILAS MARTÍ EM AMSTERDÃ

É uma janela para o Brasil, agora mais aberta do que nunca. Em primeiro plano, um pássaro descansa no peitoril. Ao longe, um rio serpenteia por entre os pastos e conduz o olhar ao casario banhado por uma luz difusa.

"Panorama Brasileiro", quadro de Frans Post pintado em 1652, acaba de ser restaurado por técnicos do Rijksmuseum, em Amsterdã.

Depois de um ano longe do público, a obra do artista holandês, morto aos 67, em 1680, teve cor e contraste originais restaurados e está em exibição neste que é um dos maiores museus da Europa.

Em forma de janela, com a parte de cima arredondada, a tela de três metros de altura é a maior já feita por Post.

Em junho, será exposta no Masp, junto a outra obra dele, "Cachoeira de Paulo Afonso" (1649), em chance única de ver exemplos marcantes da construção da imagem de um país ainda em formação pelas mãos de um mesmo autor.

Post estava a serviço do conde Maurício de Nassau, o governador-geral da colônia holandesa no país. E, por isso, tinha a missão de retratar toda a exuberância e fartura das terras conquistadas. Também acabou reforçando na Europa o imaginário de um Brasil estranho e exótico.

"É uma paisagem brasileira, um quadro enorme, cheio de detalhes", descreve Wim Pjibes, presidente do Rikjsmuseum, em entrevista à Folha. "A tela levou muitos meses para ser restaurada."

Isso porque camadas de verniz aplicadas em restauros sucessivos desde o século 17, em especial intervenções equivocadas nos anos 1960, foram encobrindo as cores originais do quadro.

Num esforço que consumiu um ano, bancado em parte pela subsidiária holandesa da Petrobras, as camadas de verniz foram removidas e áreas danificadas pela umidade também foram retocadas.

"Toda a tela estava coberta por um verniz já muito amarelado", conta Anna Krekeler, restauradora do Rijksmuseum. "Removi todos os retoques que haviam sido feitos ao longo da história, corrigi a saturação das cores e preenchi os buracos onde a tinta estava descascada."

Da mesma forma que Krekeler reconstruiu partes da tela, Post, na composição original, também misturou elementos de vários de seus desenhos ao pintar o quadro já de volta à Holanda e distante da paisagem brasileira. Ou seja, sua representação é em grande parte inventada.

Isso porque, nessa fase de sua carreira, ele já atendia encomendas de clientes abastados, que gostavam de decorar suas casas com vistas exóticas do Novo Mundo.

"É uma paisagem fantástica do Brasil, pintada a partir dos desenhos que fez durante sua viagem", diz Krekeler. "Chega a ser um pastiche de seus próprios desenhos."

MINIATURISTA

Pedro Corrêa do Lago, autor do maior estudo sobre o artista já publicado, destaca nessa composição o talento de miniaturista de Post, que nas margens do quadro e nas partes mais distantes da paisagem não deixa de retratar a natureza em detalhes.

"Esse é um Frans Post no auge de seus poderes", diz Corrêa do Lago. "É um miniaturista exímio na descrição da natureza e na representação da paisagem de várzea, típica do Nordeste."

Teixeira Coelho, curador do Masp, acredita que a possibilidade de ver como Post mostrou o Brasil para um público de holandeses terá ressonância especial numa exposição em São Paulo.

"Post pintava de certa forma paisagens imaginárias a partir da realidade, várias delas pintadas na Holanda, após a sua estada no Brasil", diz Coelho. "Suponho que por se tratar de um artista que de algum modo forneceu uma imagem do Brasil para seus contemporâneos holandeses, o público do país terá interesse em ver como o fez."

A recíproca é verdadeira. Também na Holanda esse contato com o Brasil, estranha e distante colônia temporária, mediado pelo olhar minucioso e imaginativo de Post, desencadeia reflexões.

Isso porque, embora holandês, só as representações que fez do Brasil sobreviveram até agora. "O que é muito especial nessa tela é a forma como ela estabelece um território em comum", diz a restauradora da obra. "É um encontro entre a história do Brasil e a da Holanda."


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