Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Ilustrada

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Arte cintilante do grupo Zero chega a SP

Mostra na Pinacoteca traz grandes instalações do movimento alemão, famoso pelo uso de espelhos e jogos de luz

Corrente estética dos anos 1950 marcou oposição à arte do pós-Guerra, com trabalhos feitos de quase nada

SILAS MARTÍ DE SÃO PAULO

Uma sala escura é atravessada por linhas elásticas brancas, que recortam o espaço. De repente, a trama se contorce movida a motores, e as paredes parecem vivas.

Na instalação do italiano Gianni Colombo, fica clara a ideia de seu grupo Zero, movimento surgido na Alemanha nos anos 1950, agora tema de uma grande exposição na Pinacoteca do Estado.

Zero, nas palavras de um de seus idealizadores, o artista alemão Otto Piene, é a "zona de silêncio, semelhante a uma contagem regressiva antes do lançamento de um míssil", ou "espaço para pureza e claridade", uma "vivacidade espacial reconquistada".

De certa forma, o vocabulário bélico, de mísseis e reconquistas, entra nesse discurso para ser sublimado. Na Alemanha do pós-Guerra, um país que se reerguia da tragédia do nazismo, a arte tomava um rumo mais luminoso, como se das trevas ressurgisse uma nova matriz visual.

Não por acaso, as primeiras manifestações do Zero, famoso pelo uso de espelhos, jogos de luz e uma cartela de cores minimalista, aconteciam à noite, em ateliês nos sótãos de Düsseldorf e até nas florestas à beira do Reno.

Enquanto os alemães, além de outros europeus que se juntaram ao grupo, pensavam uma nova estética ancorada em fenômenos luminosos, surgia no Rio o movimento neoconcreto, que também pregava a dissolução do objeto artístico, ou a tão alardeada fusão entre arte e vida.

Sem querer, esse ideal de uma arte imaterial, feita de quase nada ao mesmo tempo em que era capaz de dominar a percepção do espaço, acabou abraçando o mundo.

Não demorou para que neoconcretistas como Lygia Clark ou Almir Mavignier entrassem na mesma frequência cintilante do grupo Zero.

Na Pinacoteca, um "Bicho" dourado, uma das esculturas de metal articulado de Clark, está ao lado de uma tela toda azul do francês Yves Klein, que então criava a cor que virou sua marca registrada.

Klein, alinhado ao discurso quase hippie dos Zero, falava em libertar as cores das amarras da composição. Seus campos cromáticos, sempre naquele mesmo tom de azul ultrapotente, seriam então tentativas de abalar o espaço, ou forjar outra dimensão.

É a mesma ideia do argentino Lucio Fontana, que rasgava suas telas ao meio, ou do italiano Piero Manzoni, que guardava quilômetros de linhas dentro de pequenos tubos --uma arte que é ao mesmo tempo a mais depurada expressão do espaço físico.

'CÓSMICO E INFINITO'

"Eles queriam integrar o movimento à pintura", diz Heike van den Valentyn, curadora da mostra. "É a ideia de espaço cósmico, infinito."

Talvez por isso, por maior que seja a exposição, a sensação de flanar pelas salas seja a de cruzar um campo vazio, entrecortado por raios de luz mais ou menos intensos.

Isso transparece no pano que flutua sobre um ventilador, obra de Hans Haacke, no jogo de espelhos de Christian Megert ou na vibração das telas de Jesús Rafael Soto.

Em contraponto à leveza, obras que absorvem a luz, como o mural de pneus do holandês Armando ou a parede de caixas de papelão de Jan Schoonhoven, também holandês, são o avesso acachapante dessa estética. São obras que fazem ver a própria ausência da luz como espécie de lampejo fulminante.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página