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Kusama no País das Maravilhas

Nova tradução do clássico de Lewis Carroll sai no Brasil com ilustrações da artista japonesa famosa por suas bolinhas

SILAS MARTÍ DE SÃO PAULO

"Minha obra vem de alucinações que só eu posso ver. Traduzo as imagens obsessivas que me atormentam em pinturas e esculturas", disse certa vez a artista japonesa Yayoi Kusama. "Eu, Kusama, sou a versão moderna de Alice no País das Maravilhas'."

Essa última frase ela gritou num "happening" em 1968 diante da estátua da famosa personagem de Lewis Carroll no Central Park, em Nova York. Vestida de Alice, a artista pintava bolinhas coloridas no corpo de homens nus.

Não espanta, portanto, que tempos depois ela tenha emprestado essas bolinhas coloridas, que ela diz enxergar o tempo todo, a uma nova ilustração do clássico de Carroll, morto aos 65, em 1898.

Lançada há dois anos no Reino Unido, a versão de "Alice no País das Maravilhas" com desenhos de Kusama já teve os direitos vendidos para sete países e chega agora ao Brasil pela editora Globo, com tradução para o português da colunista da Folha e escritora Vanessa Barbara.

Do mesmo jeito que a relação de Kusama com "Alice" é coisa de longa data, Barbara também teve o primeiro contato "sério" com a obra ainda na faculdade, quando escreveu toda uma prova sobre o livro de trás para frente, usando um espelho. "Acho que o Carroll teria tido orgulho."

Talvez mais orgulho ele teria ao ver essa nova versão do livro de 1852. Por questões contratuais, Barbara teve de respeitar na tradução o mesmo ritmo e cadência do original ilustrado por Kusama, para que os desenhos dela não perdessem a ligação com passagens específicas do texto.

"Foi um parto", diz Barbara. "Traduzir Alice' é a coisa mais difícil que eu já fiz."

E não deve ter sido fácil para Kusama, longe de ser a primeira a enfrentar o texto alucinógeno de Carroll. A obra já foi ilustrada pelos surrealistas Max Ernst e Salvador Dalí, cartunistas de traço fino, como Saul Steinberg, e artistas contemporâneos, como o brasileiro Luiz Zerbini.

REALIDADE SURREAL

Mas a versão de Kusama é única. "Queríamos que a sensação de ler o livro fosse a mesma de estar numa das salas coloridas de Kusama", diz Alexis Kirschbaum, editora da versão original, da Penguin britânica. "É como se as paredes girassem e bolinhas voassem por toda parte."

De fato, as bolinhas dominam. Quase não há figuras reconhecíveis, já que tudo na obra de Kusama parece estar coberto por essa estampa.

Ela, que vive num hospício em Tóquio há 20 anos onde se internou por conta própria, diz que suas bolinhas devolvem seres e objetos à natureza primordial do universo.

Em São Paulo, isso deve ficar mais claro com uma grande retrospectiva da artista, que chega ao Instituto Tomie Ohtake no mês que vem. Mas até lá, o livro serve quase como uma prévia da exposição.

"Suas imagens agigantadas comentam a questão da proporção no mundo", observa Kirschbaum. "Ela experimenta a vida real de um modo surreal, enxergando bolinhas em todos os cantos e se sentindo sempre muito pequena num mundo enorme."


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