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Crítica - Documentário

Filme sobre Ai Weiwei simula sensação de sufoco da prisão

DE SÃO PAULO

Foi um ano de filmagens, mas poderia ter sido só um dia. É essa a sensação de ver a rotina do artista chinês Ai Weiwei às voltas com as autoridades de seu país depois de sua detenção, há três anos.

Ele passou 81 dias em poder de agentes do governo no início de 2011, acusado de crimes como sonegação fiscal e difusão de pornografia, e foi solto depois de pagar fiança.

É o flagra do artista voltando para casa em Pequim que abre "Ai Weiwei: O Caso Falso", filme do cineasta dinamarquês Andreas Johnsen no festival É Tudo Verdade.

Desse momento em diante, a câmera de Johnsen não desgruda do artista, como um carrapato inconveniente. Está lá mesmo quando ele dorme, quando trava diálogos aleatórios com personagens desimportantes ou dá suas entrevistas no auge do tédio.

Johnsen parece simular em seu documentário o vazio sentido pelo artista na longa espera da decisão judicial que poderia restituir, ou não, sua liberdade plena. No meio tempo, Weiwei era tão vigiado pelas autoridades quanto pelo cineasta, numa espécie de eco entre a realidade e seu registro em tempo real.

É nesse ponto que o filme consegue ser subversivo. Johnsen cria um paralelo entre as idas e vindas do caso Weiwei com tomadas do sol nascendo e se pondo --um mundo que gira em falso.

Pequim, com a densa nuvem de poluição acobertando o horizonte, é aqui uma extensão da cela do artista.

Noutro jogo de ecos, Johnsen documenta passo a passo a criação da instalação que Weiwei mostrou em paralelo à última Bienal de Veneza, que era a réplica em miniatura da cela onde foi vigiado por guardas 24 horas por dia.

Debaixo de um céu esmagador, Weiwei arquiteta sua própria prisão. E o registro disso chega a sufocar.

Johnsen é hábil em criar essa sensação. Mas parece também atacar aqui a obsessão do artista em se documentar e fotografar a todo instante, num exercício que patina em círculos --o registro do registro do registro do registro.

Muitas sequências induzem ao sono e mergulham o espectador no tédio de uma vida vigiada. E isso só pode ser intencional neste filme que se revela um reality show levado às consequências mais perversas.


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