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Crítica Serial

LUCIANA COELHO - coelho.l@uol.com.br

Netflix pasteuriza horror de Tarantino

Transformado em série, cult "Um Drink no Inferno" se torna polido e arrastado demais

FÃS DE TARANTINO, tremei. Robert Rodriguez, chapa do diretor, lançou pelo seu novo canal El Rey uma versão serializada do cult de horror "Um Drink no Inferno", assinado pela dupla em 1996. Menos as referências pop. E os diálogos espertos. E a agilidade de edição. E Salma Hayek.

É, não sobrou muita coisa boa do original na série que chega ao Brasil pela Netflix, com dez episódios previstos na primeira temporada e contrato recém-anunciado para uma segunda.

Embora o argumento central seja o mesmo --irmãos assaltantes e pastor descrente em fuga se veem presos em um bar ermo lotado de vampiros--, a série de horror parece uma versão pasteurizada do filme original, escrito por Quentin Tarantino e dirigido por Rodriguez.

Um dos charmes da produção de 1996 era o ranço de pastiche, uma conexão direta (e reverente) com os anos que Tarantino passou trabalhando em uma videolocadora. O universo dos filmes B sempre esteve presente em sua obra, mas é só em "Um Drink no Inferno" que ele toma descaradamente o papel central.

Rodriguez, que mostrou boa mão para o subgênero em "A Balada do Pistoleiro" (1995) e dirige os quatro primeiros episódios da série, erra ao polir demais a nova versão. Curioso, já que seu novo canal, ligado à Miramax, propõe-se a focar em filmes de terror sanguinolento, kung-fu, pancadaria e algo de sobrenatural.

Os diálogos perderam as sacadas típicas de Tarantino no roteiro assinado por Diego Gutierrez (que tem no currículo "Dawson's Creek") e pelo produtor Mark McNair. Culpa do formato alongado. As cenas de ação e horror são o prato principal, bem executadas, mas o tempo entre elas corta o suspense esperado de séries assim.

Nesta versão, os irmãos Seth e Richard Gecko, vividos no cinema por George Clooney e Tarantino, são interpretados por D.J. Cotrona (de "G.I.Joe") e Zane Holtz, o segundo com mais desenvoltura do que o primeiro. Satanico Pandemonium é a magérrima Eiza Gonzalez, um arremedo de Salma Hayek. Esperamos a dança da serpente.

Já o papel do pastor renegado Jacob Fuller, que foi de Harvey Keitel no filme, ficou com Robert Patrick, o androide malévolo de "O Exterminador do Futuro 2", que surpreende tanto pela boa atuação quanto pelos sinais da idade. Madison Davenport substitui Juliette Lewis como sua filha Kate, e Wilmer Valderrama, o Fez de "That 70s Show", dá as caras como o líder de uma quadrilha de traficantes-vampiros.

Desta vez, a Netflix não disponibilizou a série toda de uma tacada só, o que poderia ajudá-la a emplacar. Até o terceiro episódio, que é o que já chegou ao Brasil, o enredo carece de ritmo.

Richard está mais louco, há mais história por trás dos vampiros e não se economiza sangue. Mas isso não segura plateia em um mundo que não precisa de outra série de vampiros. É de se pensar como será sustentada uma segunda temporada.


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