Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Ilustrada

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Milionário que comprou obra de Sade é 'imperador do manuscrito'

'120 Dias de Sodoma' vai para acervo de Gérard Lhéritier com mais de 135 mil documentos

Entre documentos do francês está carta de Napoleão Bonaparte que trata de sua campanha na Rússia

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PARIS

"Vou explodir o Kremlin no dia 22 às três horas da manhã", diz trecho da carta de 20 de outubro de 1812 que leva a assinatura "Nap".

A campanha da Rússia é o início do declínio de Napoleão Bonaparte (1769-1821), e a carta é um dos mais de 135 mil documentos que fazem o francês Gérard Lhéritier merecer o apelido de "imperador dos manuscritos".

O acervo da sua empresa vale 1 850 milhões (R$ 2,59 bilhões), segundo alega. O texto "120 Dias de Sodoma" foi seu último lance no exclusivo mundo das raridades.

Lhéritier, 65, diz que entrou nesse negócio por acaso. Seu "bunker" é o Hôtel de la Salle, suntuoso prédio do século 17 onde funciona também um museu que fundou.

O empresário recebeu a Folha para falar sobre a negociação que o levou a recuperar o texto concluído por Sade quando estava preso na Bastilha.

-

Folha - O que significa comprar "120 dias De Sodoma"?
Gérard Lhéritier - É um manuscrito mítico da literatura francesa. Foi roubado daqui. Finalmente, o público francês vai poder vê-lo.

O sr. aprecia a obra de Sade?
Temos 80 cartas do Sade, uma dúzia é inédita. "120 Dias de Sodoma" nos interessou pela história do documento. O conteúdo nem tanto, já foi transcrito. Você lê cinco páginas e já vê o quão tórrido ele é.

Como o senhor soube que poderia comprá-lo?
Um livreiro que conhece a família Normand [comprou o texto em 1982] me disse que ela estava pronta para vender. O começo foi fácil.

O que foi difícil?
A família Normand queria um preço, a família Perrone [herdeiros de Sade], outro. O preço foi subindo. Quando chegamos num acordo, os Perrone queriam que o manuscrito fosse entregue um dia à Biblioteca Nacional da França. Propus doar em cinco anos. Biblioteca e ministério queriam que eu fizesse a doação imediatamente, o que me surpreendeu. Afinal, custou muito, muito caro. No fim, chegamos a bom termo com os herdeiros.

O Estado francês participou?
Nem com um euro.

Como é a certificação de autenticidade desse original?
É um documento único, difícil imitar. Peritos independentes o analisaram.

Como o sr. começou a se interessar por manuscritos?
Trabalhei com seguros, o que me entediou. Um dia encontrei meu caminho graças ao cerco de Paris [pelos prussianos, na guerra de 1870]. Vi numa vitrine uma carta marcada [enviada] "via balão". Com a cidade cercada, balões eram usados para que a correspondência saísse. Consegui cartas de Victor Hugo, de Manet e da atriz Sarah Bernhardt. Comecei nos anos 1980, nunca mais parei.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página