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Hora da saudade
Festival independente pernambucano Abril Pro Rock vai de tributo a Reginaldo Rossi e Jovem Guarda para agradar plateia de jovens
Principal festival independente fora do eixo Rio-São Paulo, o Abril Pro Rock, em Olinda (PE), chega hoje à sua 22ª edição apostando na nostalgia e no ecletismo para levantar um público jovem.
Nesta noite, dedicada ao pop rock, misturam-se na escalação artistas da chamada nova MPB, nomes da cena roqueira local, um convidado internacional (a banda indie americana Sebadoh) e dois tributos saudosistas.
Já amanhã, o evento é todo dedicado ao rock pesado. A tradição começou em 1999 para atrair uma turma metaleira fiel que sai de diversos Estados do Nordeste.
A expectativa da organização é reunir em média 5.000 pessoas por noite no festival.
A plateia é, essencialmente, formada por gente na faixa dos 20 anos ou menos: cerca de 80% das vendas são de meia-entrada. Mesmo assim, a programação de hoje vai guardar para o final da madrugada, horário mais nobre do evento, dois shows que agradariam, sem esforço, pais e até avós do pessoal.
A noite deve terminar com o tributo "ReiGinaldo Rossi", dedicado ao cantor morto no fim do ano passado, aos 70 anos. Antes, ecoarão pelo salão hits dos tempos da Jovem Guarda, como "Menina Linda", entoados por Renato Barros, 69, líder do Renato e Seus Blue Caps, grupo carioca em atividade desde 1959.
A decisão de ter como "headliners" (principais convidados) atrações de repertório antigo deve-se à escassez de novos nomes de impacto na música brasileira, segundo Paulo André Pires, 46, criador e curador do festival.
"A cena brasileira se renova, mas poucas bandas chegam ao grande público. Dos anos 2000 para cá, você conta nas mãos os artistas nacionais que podem abrir um festival, e nós não queremos nos repetir. A meta é ter 80% de convidados inéditos a cada edição", diz Pires.
O passado, porém, aparecerá de cara nova. Os sucessos de Reginaldo Rossi serão cantados por nomes da cena alternativa acompanhados da banda The Rossi, formada pelos músicos que tocavam há décadas com o cantor.
Ainda em luto, a banda deixa sempre no palco um microfone vazio, guardando o lugar que era de Rossi. Em sua memória, decidiram seguir carreira sem um vocalista, alternando as vozes dos instrumentistas nas canções.
Nos demais microfones, hoje à noite, no entanto, vão se revezar artistas convidados como China, Tulipa Ruiz, Ortinho, Cannibal (da banda Devotos) e Fábio Trummer (do grupo Eddie).
A homenagem será uma releitura do disco "ReiGinaldo Rossi", de 1999, tributo indie que ajudou a alçar o brega do cantor e compositor pernambucano ao status de cult.
"No início, a banda ficou meio receosa de encarar uma plateia de rock, mas depois a gente relaxou, porque o Reginaldo, antes de ser o rei do brega, foi roqueiro. Ele começou a carreira se inspirando em Elvis Presley", diz Sandro Nóbrega, empresário da The Rossi, que foi produtor do cantor por 25 anos.
MEDO DE OVO
Para Renato Barros, no entanto, o medo de encarar o público do Abril Pro Rock ainda não passou. Mesmo com mais de meio século de experiência de palco, o cantor e guitarrista carioca teme não agradar a plateia jovem.
"Não sei como o show vai ser recebido. Estou contando que as minhas músicas tenham passado de pai para filho e espero que saia tudo bem. Estou preocupado em levar ovo", ri Renato, que vai tocar acompanhado pela banda carioca de rock Autoramas, uma parceria inédita.
Já Gabriel Thomaz, 40, vocalista do grupo e fã de longa data de Renato, não vê perigo na recepção. "São músicas que a gente sabe desde que nasce. A molecada de hoje é interessada em canções de outras épocas e está tudo à mão no YouTube", diz.
Para não atrapalhar a cantoria da plateia, o repertório de clássicos --de "Negro Gato" e "Você Não Serve pra Mim" a "Devolva-me" e "Eu Não Sabia que Você Existia"-- seguirá arranjos semelhantes aos originais.
