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Crítica - Documentário

Socorro, esse filme parece um longo comercial de autoajuda

ANDRÉ BARCINSKI COLUNISTA DA FOLHA

Dos vários absurdos perpetrados pelo Oscar nos últimos anos, o mais vergonhoso periga ser a recente derrota, na categoria documentário, de "O Ato de Matar", sobre esquadrões da morte indonésios nos anos 1960, para "Twenty Feet from Stardom", sobre a trajetória de algumas cantoras de apoio que acompanham artistas principais.

Foi a vitória do academicismo e da pieguice sobre a ousadia e a criatividade.

"Twenty Feet from Stardom" parece um longo comercial de autoajuda: histórias melosas sobre mulheres talentosas, mas injustiçadas por um "sistema" que não reconhece seus talentos; entrevistas ensaiadas, em que as personagens não dão depoimentos, mas lições de vida; frases cheias de clichês e tão bregas que causam diabetes.

"Quando canto, sinto como uma pena voando pelo ar, sem destino", diz uma das entrevistadas no longa. Socorro.

O filme sofre também de excesso de personagens: em vez de focar em poucas cantoras e explorar a fundo suas histórias, o diretor entrevistou ao menos dez, além de músicos, críticos, produtores e executivos da indústria da música.

Quando uma história começa a ficar interessante, o filme corta para outra. Parece mais uma reportagem de telejornal que um documentário.

Já bastaria se o filme fosse centrado apenas em Darlene Love, a estupenda voz do grupo The Blossoms e favorita do produtor Phil Spector, em Claudia Lennear, a lindíssima negra que cantou com Ike Turner e Joe Cocker e inspirou Mick Jagger a escrever "Brown Sugar", ou na família Waters, que fez vocais de apoio para Michael Jackson, Neil Diamond e Paul Simon e cantou na trilha de "O Rei Leão".

Mas o espectador é obrigado a aturar várias histórias de cantoras de apoio que não tiveram sucesso na carreira solo. São trajetórias parecidas que tornam o filme repetitivo.

O mais curioso é que vários superastros (Mick Jagger, Sting, Bruce Springsteen e Stevie Wonder) dão depoimentos sinceros, comedidos e informativos, enquanto as vocalistas de apoio, desconhecidas do grande público, se comportam como divas, dando lições de moral e depoimentos exagerados e melodramáticos.

Não é à toa que uns são astros e outros, coadjuvantes.


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