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Crítica/Novela

'Além do Horizonte' se afogou desde o início

Trama com proposta inovadora levou a audiência ao patamar mais baixo de todos os tempos no horário das 19h

RICARDO FELTRIN COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Encerrada na semana passada, "Além do Horizonte" não deixa saudade na Central Globo de Produção.

Com ibope médio na casa dos 20 pontos na Grande São Paulo (mas teve capítulo que marcou só 15), a novela passa a deter o título de mais baixa audiência já registrada em todos os tempos no horário.

Pouco antes de "Além do Horizonte", a Globo havia recuperado um pouco o fôlego nessa faixa, com 25 pontos de média marcados por "Sangue Bom". Isso, após o fracassado remake de "Guerra dos Sexos", que deu só 22 (cada ponto vale por 65 mil domicílios na Grande São Paulo).

Antes de estrear, a novela foi vendida pela emissora e pelos autores, Carlos Gregório e Marcos Bernstein, como uma história inovadora, moderna, um sopro de criatividade. Seria uma notícia alvissareira em meio à onda de remakes e falta de textos inéditos (e novelistas) que assola a emissora nos últimos anos.

O tema central era a busca da felicidade. O estilo oscilaria entre a ficção científica, o romance e a comédia.

Foi mais ou menos com esses argumentos que a Globo vendeu outra "novidade" fracassada às 19h, na década passada: "Bang Bang".

Em tempos de contenção de gastos e corte de salários dos chamados medalhões da dramaturgia, além de "inovar" no texto, a Globo decidiu investir em uma nova e mais barata geração de artistas, como Juliana Paiva, Thiago Rodrigues, Vinicius Tardio, Mariana Rios.

Como é tradição, acrescentou uma pitada de estrelas veteranas, caso dos sempre ótimos Antonio Calloni, Alexandre Borges, Cássio Gabus Mendes, Caco Ciocler e Flavia Alessandra, entre outros.

Embora todos os atores sejam talentosos (inclusive os jovens), poucos diálogos foram desenvolvidos com a fluidez necessária para uma trama da faixa das 19h.

OCEANO DE NOVIDADES

Dentro das próprias Organizações Globo surgiram críticas de que a novela pecava por querer inovar demais num "oceano de novidades" a cada capítulo, o que deixava o público à deriva.

A questão era que a história não martelava, como deveria, a característica de cada personagem: quem estava com quem, quem estava em busca da felicidade, quem queria impedi-la, quem era o vilão com chances de redenção e quem era caso perdido.

O papel de bobo da corte ficou para o telespectador.

Bem antes de chegar à praia foi preciso lançar botes para a novela, que penou em mares turbulentos desde que desatracou. Houve fuga em massa de telespectadores nas primeiras semanas, grupos de discussão reclamaram e os novelistas tiveram que alterar texto e andamento de alguns personagens.

Com isso, capítulos começaram a chegar com atraso ao Projac (a Globo nega), o que dava menos tempo para o elenco decorar suas falas e incorporar os personagens. Esse problema, por sua vez, trazia menos fluidez ainda para as gravações"¦ ufa! Pareceu menos uma novela e mais um redemoinho, para manter a metáfora oceânica.

A crítica foi implacável: todos perceberam que estavam diante não só de uma história esquisita, mas de um caro transatlântico em apuros.

FINAL CLICHÊ

Estima-se que cada um dos mais de 150 capítulos tenha custado cerca de R$ 150 mil.

O próprio elenco da novela jogou salva-vidas em defesa dos autores: o diretor de núcleo Ricardo Waddington, os vilões Carolina Ferraz e Rômulo Estrela, a mocinha Juliana Paiva"¦Todos passaram a reiterar que a história era ótima, que os números de audiência deveriam ser lidos com cautela, que há um preço a pagar quando se está na "vanguarda".

A despeito de tanta ladainha "inovadora", os últimos capítulos foram um surrado amontoado de clichês.

Injustiçados em seu merecido momento de glória, vilões exemplarmente punidos, além dos insuportáveis casamentos entre protagonistas (como se subida ao altar e chuva de arroz fossem a solução para todos os problemas de um navio afundando no nervoso mar de Bering).

Houve quem comparasse "Além do Horizonte" a uma eletrizante aventura, que com algum esforço da imaginação lembraria o seriado "Lost". Tudo indica que perdido está o núcleo de novelas da emissora. Talvez seja melhor voltar aos remakes, rapazes.


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