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Lourenço Mutarelli estreia peça distópica

Em 'A Hora Errada', homem deve decidir se aceita um emprego em governo ditatorial que extinguiu a arte e o lazer

Texto foi forma que o escritor encontrou de entender as atitudes do pai, delegado durante o regime militar no Brasil

MARIA LUÍSA BARSANELLI DE SÃO PAULO

Menos conhecido por seu trabalho em teatro, o também quadrinista e escritor Lourenço Mutarelli estreia amanhã uma nova peça de sua autoria, "A Hora Errada", com direção de Tomás Rezende.

A história se passa em um sombrio futuro. O casal Horácio (papel de Zémanuel Piñero) e Dolores (Magali Biff) vive há sete meses sob um novo regime político.

O mundo agora é governado por uma pequena elite, um sistema ditatorial chamado Nova Ordem, que extinguiu todas as formas de comunicação, arte e lazer.

Desempregado, Horácio sofre de depressão. Um dia, Dolores consegue agendar para ele uma disputada entrevista de emprego. A vaga no governo parece a ela uma boa chance na conjuntura dessa sociedade, que sofre com a falta de informação e com uma restrição alimentar imposta pelos governantes.

Em encontros com os recrutadores, Horácio passa a entender a função do seu cargo: é preciso exterminar parte da população mundial, já que os recursos do planeta são escassos.

Os entrevistadores argumentam que as atitudes são necessárias e embasam sua tese com teorias de pensadores como Charles Darwin.

À semelhança do Fausto de Goethe, Horácio é seduzido pelo poder e pelo conforto do cargo. Ao mesmo tempo, entra em conflito consigo mesmo, já que as atribuições são contra os seus valores. Ele precisa decidir entre ser vítima ou carrasco.

Para Mutarelli e Rezende, era preciso retratar um homem comum e acompanhar a mudança desse personagem.

"O tema central da peça são as contradições dos desejos", explica o diretor. "Queremos que o espectador se identifique com o dilema do protagonista."

A ação a que o público assiste se passa toda em uma sala. A dupla de atores permanece sentada em uma mesa e as ações externas são contadas por Horácio, que também narra a trama. A mudança de ambiente é sugerida pela luz de Marisa Bentivegna.

Mutarelli escreveu o texto há cerca de dois anos, momento em que lia obras sobre regimes totalitários. Também foi uma forma de entender as atitudes de seu pai, que foi delegado durante o regime militar brasileiro.

"Ele tentou ser um artista, não conseguiu e entrou para a polícia. Torturou pessoas em uma época em que a tortura era uma ferramenta de praxe", conta o autor, que afirma nunca ter discutido o assunto com o pai. "Não tive coragem, tampouco quis ouvir isso dele", diz.

A HORA ERRADA
ONDE Sesc Consolação, Espaço Beta, r. Dr. Vila Nova, 245; tel. (11) 3234-3000
QUANDO qui. e sex., às 20h; até 13/6
QUANTO R$ 10
CLASSIFICAÇÃO 14 anos


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