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Cannes começa amanhã fugindo do rótulo machista

Depois de acusações e protestos, maior festival de cinema do mundo terá duas diretoras na seleção principal e predomínio de mulheres no júri

RODRIGO SALEM COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE CANNES

Em 2012, nenhuma mulher foi selecionada para concorrer à Palma de Ouro do Festival de Cannes, o mais importante de cinema do mundo, cuja 67ª edição começa amanhã.

O diretor artístico do festival, Thierry Frémaux, foi tachado de machista e recebeu uma petição assinada por 900 diretoras e atrizes clamando por espaço na mostra.

"Homens adoram profundidade nas mulheres, contanto que seja em seus decotes", dizia a carta aberta das cineastas publicada no jornal "Le Monde". "Elas vão para Cannes mostrar seus sapatos, enquanto os homem exibem seus filmes", completava.

Frémaux não se abalou e, em 2013, colocou apenas uma mulher na competição, a franco-italiana Valeria Bruni, e outras sete na mostra paralela Um Certo Olhar.

"A ausência das mulheres no cinema é um problema fundamental e acho que precisamos combater isso, mas não posso levantar bandeiras como o seletor de Cannes", disse o francês, no ano passado.

Mas os protestos parecem ter influenciado a seleção do 67º Festival de Cannes, que vai até o dia 24 --os prêmios serão anunciados no sábado e não no domingo, como de costume, por causa das eleições do Parlamento Europeu.

Duas diretoras foram selecionadas para a competição principal. Uma delas é a japonesa Naomi Kawase, que apresenta seu drama existencial "Futatsume no Mado", passado em uma pequena ilha.

A outra é a italiana Alice Rohrwacher, dona de "Le Meraviglie", sobre uma menina de 12 anos que vê a vida simples na apicultura ser alterada quando chega um programa de TV à sua região.

Além delas, a competição inclui Jean-Luc Godard e seu novo filme experimental ("Adieu au Langage"), uma análise da cultura de celebridades por David Cronenberg ("Map to the Stars"), o novo filme do diretor de "O Artista", Michel Hazanavicius ("The Search"), e os irmãos e sempre favoritos Jean-Pierre e Luc Dardenne ("Deux Jours, Une Nuit"), entre outros.

RECADO

Ao apresentar em abril a seleção de 2014, o diretor artístico voltou a dizer que não escolhe filmes com base em gêneros. Mas a exaltação, ainda que rápida, da participação feminina no evento parece ter sido um recado aos críticos.

"Geralmente, não menciono o número de filmes dirigidos por mulheres, mas estou abrindo uma exceção para dizer que, entre os 49 títulos escolhidos neste ano, 15 diretoras fazem parte dele", disse.

A mudança agradou insatisfeitas de outrora. "O mundo mudou e o sr. Frémaux ouviu a mensagem", escreveu a crítica Melissa Silverstein.

Frémaux nega esse tipo de concessão: "Você nos imagina falando para um diretor: Olhe, seu filme é bonito, mas vamos escolher um longa dirigido por uma mulher no lugar'? São teorias estúpidas".

Entre as cineastas de destaque na Um Certo Olhar estão Asia Argento, filha do diretor Dario Argento, com "Incompresa", a veterana Pascale Ferran ("Bird People") e a ativista israelense Keren Yedaya ("Away From His Absence"). O filme de abertura dessa mostra paralela, "Party Girl", foi dirigido por Marie Amachoukeli e Claire Burger com o colega Samuel Theis.

SINAIS

A 67ª edição dá mais indícios de abertura para diversidade, mesmo em relação a 2011, quando quatro mulheres competiram pela Palma de Ouro e outra foi selecionada para a mostra Um Certo Olhar.

A abertura de gala será amanhã com a estreia de "Grace de Mônaco", drama sobre um ícone feminino do cinema, Grace Kelly (1929-1982), vivida por Nicole Kidman.

Há outras pistas. O pôster é pontuado por uma foto de Marcello Mastroianni (1924-1996) sozinho, a primeira vez que acontece na história moderna do festival, desde que abandonou as ilustrações.

"Uma escolha consciente seguindo o criticismo de que os pôsteres anteriores, estrelados por mulheres, as tratavam injustamente como objeto", disse o diretor à agência de notícias Associated Press.

Para consolidar a alma feminina de Cannes 2014, o júri volta a ter predomínio feminino, após cinco anos. A presidente é Jane Campion, única mulher a faturar a Palma, em 1993 por "O Piano".

Campion lidera três atrizes (a francesa Carole Bouquet, a iraniana Leila Hatami, e a sul-coreana Jeon Do-yeon) e uma diretora (Sofia Coppola)

Quatro homens completam o júri: os atores Willem Dafoe e Gael García Bernal, e os diretores Jia Zhangke e Nicolas Winding Refn.


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