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Festival mineiro traz ao país 'Hamlet' sanguinário

Diretor Leander Haussmann diz ter se inspirado em quadrinhos violentos

Encenação do Berliner Ensemble é parte do Festival Internacional de Teatro de BH, que chega aos 20 anos

NELSON DE SÁ DE SÃO PAULO

Neste "Hamlet", Polônio não só é assassinado, mas estripado e tem seu cérebro arrancado pelo príncipe.

A encenação do Berliner Ensemble, por Leander Haussmann, 54, é a atração do Festival Internacional de Teatro de Belo Horizonte, que está fazendo 20 anos.

O diretor diz ter se inspirado numa HQ para a morte de Polônio e que os personagens shakespearianos ecoam em filmes como "Jogos Mortais".

Sobre o Berliner, diz que seu avô, ator na companhia criada por Bertolt Brecht (1898-1956), sentiria orgulho. "Porque, em contraste com Brecht, eu não sou um ateu."

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Folha - Qual é seu objetivo com a violência de Hamlet? Você se inspirou nos filmes "slasher" [cortadores]?
Leander Haussmann - Shakespeare criou personagens que vemos em filmes como "Jogos Mortais" e "O Albergue". Os dois matadores de "Pulp Fiction" são cópia dos matadores de "Ricardo 3º".
Para mim, era claro que Hamlet sairia descontrolado, portanto, ele tem de se livrar de sua humanidade. Do contrário, não poderia vingar o pai. Polônio, embora consultor do rei, é inocente. Seu assassinato é realmente brutal. Minha inspiração vem de uma história em quadrinhos que li anos atrás, em que um cavaleiro mata, estraçalha o corpo e diz: "A alma deve estar em algum lugar".

Como a sua experiência no cinema influenciou seu trabalho no teatro, com "Hamlet"?
Por muito tempo, ocupei-me com as leis para um bom roteiro, com contar histórias e com o entretenimento como negócio. Ou seja, meus dez anos de abstinência teatral foram, na verdade, bons para "Hamlet". Eu adoro trabalhar com os atores, a concentração dos ensaios e o foco numa história tão complexa. Fiquei muito contente e percebi o quanto sentia falta do teatro.

Shakespeare é muito importante para o teatro e a literatura alemães, desde as traduções até os românticos, Brecht, Heiner Müller [1929-95, dramaturgo]. Por quê?
Por tudo o que se pensar. Shakespeare pertence a todos os países. Quando "Hamlet" foi montada pela primeira vez na Alemanha, teve extrema influência. Foi o início do teatro alemão moderno. Schiller [1759-1805, dramaturgo] não seria possível sem Shakespeare. E Müller usou Shakespeare como cavalo de Troia na Alemanha Oriental. Tomou as peças, misturou as cores e produziu uma nova. Eles não podiam censurá-lo, mas nós o entendemos.

Seu avô foi ator no Berliner. Foi parte da razão para voltar ao teatro nessa companhia?
Meu avô interpretou pequenos papéis com grande devoção. Eu cresci no BE e fiz minhas primeiras experiências teatrais lá. Elas me influenciam até hoje. Também compartilho o amor de meu avô pelos pequenos papéis. Nas minhas peças, você nunca verá um ator que não tenha prazer em interpretar seus papéis, mesmo que seja menor. Acredito que meu avô estaria orgulhoso de mim. Tenho certeza de que estaria, porque, em contraste com Brecht, eu não sou um ateu.


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