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Crítica - Drama

Filme provoca transformação da realidade pelo onirismo

CÁSSIO STARLING CARLOS DO CRÍTICO DA FOLHA

O fascínio que exerce o cinema de Apichatpong Weerasethakul tem a ver com a indefinição, com a suspensão como ele filma o mundo em sua banalidade e, sem que este perceba, move o espectador para outra realidade.

Em "Hotel Mekong", primeiro longa do tailandês após o triunfo de "Tio Boonmee, que Pode Recordar Suas Vidas Passadas" no Festival de Cannes de 2010, a câmera é posta, como sempre, face à natureza e a contempla como um observador extasiado.

À beira do Mekong, rio que serve de fronteira entre a Tailândia e o Laos, as imagens de "Hotel Mekong" captam essa indefinível zona fronteiriça entre a realidade e tudo que a transborda, magia, imaginação ou superstição.

À maneira de um "making of", vê-se o próprio diretor observar um músico tocar violão. Na varanda do hotel, hóspedes observam as águas e conversam. Depois, um deles troca de roupa enquanto se ouve a voz do diretor, fora de cena, opinar sobre o figurino.

Uma senhora conta histórias do passado, do confronto armado, dos campos de refugiados do Laos. Outros fantasmas ressurgem em conversas sobre uma criatura sobrenatural. Subitamente, vemos imagens de terror, algo entre a possessão e o vampirismo, filmadas com a mesma naturalidade como outra mostrava alguém escutar um violão.

Assim, sem nenhum recurso complicado, Weerasethakul provoca um reencantamento do mundo, uma transformação da realidade pelo onirismo. Algo como o que ocorre quando no meio do dia fechamos os olhos e somos tomados pela imaginação.

Quando o filme retorna ao cotidiano e registra o revolteio das motos aquáticas no Mekong, o fragmento sem grande interesse pulsa como se contivesse a presença de todos os deuses deste mundo e dos outros.

Ali o cinema se revela como arte das assombrações.


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