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Artista retrata jovens árabes em Israel

Fotógrafo judeu registra adolescentes na idade em que a distância entre os povos do Oriente Médio se acentua

Em ensaio, Natan Dvir quer mostrar as tensões e o abismo existentes entre esses dois grupos que ocupam o país

DIOGO BERCITO DE JERUSALÉM

Um jovem árabe olha, de dentro de seus 18 anos, para a lente do fotógrafo. Registrado em um clique, ele agora observa o espectador da coleção de fotos "Eighteen" (dezoito), expostas pelo artista israelense Natan Dvir, 41.

As imagens parecem capturar, entre diversos elementos, a desconfiança e o atrito entre fotógrafo e fotografado. Dvir é judeu, e seus personagens, árabes, o que os coloca em meio a um antigo conflito pela posse do território hoje sob o controle de Israel.

"É óbvio que há tensão", se irrita Dvir, em entrevista à Folha. Ele acha que é desnecessário explicar por que há atrito "na natureza da nossa relação". "Eu sou judeu e eles são árabes", resmunga.

O Estado de Israel foi criado em 1948 e, desde então, está em conflito com as populações árabes no Oriente Médio. O país travou guerras violentas com os vizinhos Egito, Jordânia, Síria e Líbano e ocupa a Cisjordânia até hoje com seu aparato militar.

O governo israelense enfrenta, na população árabe que permaneceu dentro de suas fronteiras como cidadã, um desafio social e demográfico, enquanto luta para definir em termos legais que Israel é um "Estado judeu".

Parte da proposta de Dvir, quando entrou na vida de jovens árabes para retratá-los, era trabalhar com essa tensão. Ele também quis conhecê-los mais a fundo, já que a infância no país não lhes garantiu proximidade, em meio ao conflito e à separação no país. "Meu projeto é sobre o respeito pela cultura deles."

Apesar das histórias de convivência entre árabes e judeus, em Israel, ambas as populações vivem em contextos distintos e, na prática, pouco interagem. "Eu tive contato com árabes, quando era jovem, mas não conhecia seus valores", afirma Dvir.

O projeto "Eighteen" é, assim, a maneira que o fotógrafo encontrou de construir um mundo em comum entre a sua cultura e aquela de seus colegas de cidadania, os árabes. Dvir diz acreditar que, se ele foi capaz de fazê-lo, outros israelenses também poderão.

O fotógrafo conta que "alguns dos árabes fotografados estavam muito amigáveis depois do processo". Foram 64 personagens registrados entre 2009 e 2010. Cada um levou, em média, metade de um dia para as fotos.

Todos eles foram fotografados aos 18 anos, a partir da ideia de que essa é a idade em que a separação entre judeus e árabes é mais acentuada, em Israel. Judeus são alistados, mas a maioria dos árabes não participa do serviço militar obrigatório ali.

Assim, as imagens de Dvir registram a falha tectônica entre esses dois grupos. Apesar de ambos serem cidadãos em Israel, eles vivem culturas diferentes. E a distância, afirma o fotógrafo, cresce.

"Esta geração de árabes tem mais orgulho de suas raízes palestinas", diz Dvir. "E os jovens judeus estão se tornando mais radicais, com parte deles acreditando que os árabes-israelenses deveriam ser privados de seus direitos como cidadãos."


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