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Richard Serra quer fugir das artes como commodities

Escultor americano expõe desenhos e participa de fórum de arquitetura no Rio

Exposição que abre na sexta (30) mostra 96 trabalhos selecionados pelo artista; 15 das obras são inéditas

CRISTINA GRILLO DO RIO

Na primeira visita que fez à casa modernista que abriga o Instituto Moreira Salles, na zona sul do Rio, há cerca de um ano, o escultor norte-americano Richard Serra, 76, encantou-se com a possibilidade de expor seus desenhos em um ambiente mais íntimo e menos impessoal do que um museu tradicional.

Mas fez uma exigência. Pediu a remoção de paredes provisórias que encobriam longas extensões de janelões envidraçados e que costumam ser usadas nas exposições.

Diminuiu a área que poderia exibir seus trabalhos, mas ganhou em luminosidade e amplidão para as obras que, a partir de sexta (30), poderão ser vistas no casarão projetado por Olavo Redig (1906-1984) e que tem jardins de Burle Marx (1909-1994).

"As paredes tiravam a transparência da casa e me davam uma sensação claustrofóbica", diz o artista, no Rio para a montagem da mostra.

"Richard Serra: Desenhos na Casa da Gávea" mostra 96 trabalhos selecionados pelo artista. Muitos fizeram parte da grande retrospectiva da obra do autor organizada pelo Metropolitan Museum, de Nova York, em 2011.

Mas há 15 trabalhos inéditos, da série "Reversal", de 2013, e outros ainda pouco vistos, como a série "Courtauld Transparencies" (2013), exibida pela galeria londrina Courtauld no ano passado.

A luminosidade que atravessa as paredes de vidro aumenta o impacto das obras de Serra, um artista mais conhecido por suas esculturas de grandes dimensões.

As texturas de "Double Rift", painel em preto sobre papel branco, com quase três metros de altura e cinco metros de extensão se tornam mais vívidas quando cercadas pelos janelões com vista para os jardins de Burle Marx.

Há também cadernos de rascunhos. Alguns deles passaram pelo Metropolitan, mas há vários inéditos.

Em dois deles é possível ver como Serra começou a criação da gigantesca "East-West/West-East", recém concluída série de quatro lâminas em aço, seu material preferido, com alturas variando entre 14m e 16m, instalada no meio do deserto do Qatar.

"O mais difícil foi achar o lugar", diz Serra, que durante um ano percorreu o deserto acompanhado por arqueólogos, a convite do governo do Qatar, até encontrar o cenário perfeito para a nova obra.

Serra não gosta de ser considerado um dos grandes artistas de nosso tempo. "Isso muda todo mês", ironiza.

"Hoje, artistas são obrigados a mostrar trabalhos em feiras de arte, avaliados por casas de leilão. Quero fugir da commoditização' da arte."

A evolução da arte, avalia, sempre se baseou no imperativo ético de se ir contra o status quo. "Agora, os artistas se identificam com o imperativo de fazer produtos que os transformem em marcas. Caíram na armadilha de fazer produtos de luxo a um mercado. Não digo que isso seja bom ou mau, mas não há mais resistência ao mercado."

Mesmo assim, Serra não se vê como pessimista. "Cada geração tem o que merece, mas tenho esperança de que a juventude encontrará um jeito de resistir ao status quo. Isso faz parte de ser jovem."


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