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Obras para Olimpíada no Rio frustram crítico de arquitetura

RAUL JUSTE LORES DE WASHINGTON

O crítico de arquitetura do "New York Times", Michael Kimmelman, já foi apelidado de "o crítico do povo" por preferir escrever sobre espaço público que sobre obras de arquitetos-celebridades.

Suas reportagens detonaram campanhas contra a reforma da Biblioteca Pública de Nova York, pela transformação da Penn Station e pela ligação do Brooklyn com o Queens por bondinho.

Kimmelman participa nesta terça (27), no Rio, de debate sobre as relações entre a cidade e arte com o escultor norte-americano Richard Serra, durante o principal fórum de arquitetura brasileiro. A seguir, trechos da conversa dele com a Folha.

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ARQUITETURA NA RUA

Um prédio não é uma escultura. É vida, e a vida existe em contexto. Tem que funcionar, tem que melhorar nossa vida. Podemos viver cercados de coisas bonitas. Gosto de escrever sobre o que é que faz a grande arquitetura, e que papel tem em melhorar nossas vidas. Como a arquitetura se encaixa com calçadas, ciclovias, metrôs.

RIO DECEPCIONA

Tive uma decepção com o Rio. Você não joga uma área nas mãos de empreiteiras para construir torres corporativas e bota um museu do Calatrava do lado [ele se refere ao espanhol Santiago Calatrava, que projetou o Museu do Amanhã, previsto para ser inaugurado em 2015].

É preciso mix de funções, prédios residenciais, escritórios, varejo, mistura de classes sociais --algo com o qual o Brasil parece não ter familiaridade. Tem que ter empregos, parques, espaço público. O que vi não é satisfatório.

Já a Vila Olímpica faz com que a cidade cresça como um subúrbio americano sem fim, levando tudo para longe. Não dá para querer uma cidade densa e espalhar bairros distantes ao mesmo tempo.

NÃO A FIFA

A maioria das cidades faz o que a Fifa ou o Comitê Olímpico Internacional querem. Não é a Fifa que deveria dizer o que as cidades farão. As cidades precisam ter um plano, e que deixe a cidade melhor no final. Londres tinha uma ideia, desenvolver o bairro East End, criar um novo centro, melhorar o transporte coletivo e usar os jogos com a energia, o dinheiro, os investimentos que atraem.

Ter prazo limitado é bom, força as coisas a acontecerem mais rapidamente. O Rio teve a oportunidade de seguir Barcelona e Londres e não soube fazer.

FOCO NO LEGADO

A ideia de ter Copa e Olimpíada no Brasil com dois anos de diferença não foi a mais esperta do mundo, nem a mais responsável. O que as cidades farão com esses estádios todos? Se você não foca no legado, faz papel de bobo.

DE CIMA PARA BAIXO

Não é simples fazer habitação a preço acessível. Não adianta querer prédios baixos, parques e ciclovias e esperar que o preço do metro quadrado caia. Alguém precisa pagar essa conta. Politicamente é fácil dizer que a comunidade tem que decidir tudo, mas às vezes nada seria construído se dependêssemos das comunidades. Há projetos que têm que vir de cima para baixo.


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