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Livro conta como 5 italianos mudaram o teatro no Brasil

'A Missão Italiana' narra paixões e conflitos de diretores que ajudaram a romper com a tradição, como Gianni Ratto

Profissionais que se agruparam em torno do Teatro Brasileiro de Comédia, em São Paulo, são foco de pesquisa

NELSON DE SÁ DE SÃO PAULO

Italiana de Gênova, Alessandra Vannucci, 45, veio ao Brasil trabalhar com o diretor Augusto Boal (1931-2009) há 15 anos. E descobriu "essa geração de italianos que ninguém tinha pesquisado".

O resultado são as 352 páginas de "A Missão Italiana", em que faz a biografia, como chama, dos cinco diretores que mudaram o teatro brasileiro: Adolfo Celi (1922-86), Ruggero Jacobbi (1920-81), Luciano Salce (1922-89), Flaminio Bollini Cerri (1924-78) e Gianni Ratto (1916-2005).

Eles trouxeram o projeto de estabelecer um teatro da direção, não mais de grandes atores, estrelas. "E aqui eles encontraram um território que desejava a modernidade como ruptura radical com a tradição", diz Vannucci.

Embora tenha origem em seu doutorado na PUC-RJ, ela mudou tudo. "Era a coisa mais sisuda e chata e séria do mundo", diz. "Aí decidi dar um fluxo de vida, de detalhes. Eu queria que fosse visível a impetuosidade do Zampari, que ele era careca, suava."

O empresário Franco Zampari (1898-1966) foi quem juntou os cinco em São Paulo, em seu Teatro Brasileiro de Comédia, ao lado de atores como Cacilda Becker, Sérgio Cardoso e Tônia Carrero.

CENSURA

O livro detalha as paixões e os conflitos desse encontro, antes, durante e depois do TBC. O mais célebre é o relacionamento entre Celi, o diretor-artístico, e Cacilda, a principal atriz. Vannucci leu as cartas que eles trocaram, mas não pôde usá-las.

"Elas não foram liberadas pelos herdeiros brasileiros", diz. "As 67 cartas estão lá, belíssimas. Com a lei que tem, a gente fica zelando por não ter problemas judiciais. Agora, são belíssimas, valeria a pena, mas tive que tirá-las."

Elas foram integradas em parte à narrativa, que relata desde o primeiro encontro até a separação, quando Celi se envolve com Tônia --e se acentuam as dissidências no TBC.

Se ficou sem as cartas, Vannucci fez outras descobertas. Uma das principais foi o regulamento do teatro, provavelmente elaborado por Celi. "É fantástico. [Mostra] os parâmetros que regraram o lançamento da modernidade em cena, num modelo que tentava disciplinar os atores."

MALANDROS

"A Missão Italiana" também joga luz sobre um episódio controverso, envolvendo "Ronda dos Malandros", dirigida por Jacobbi e retirada de cartaz. "Em quase todos os livros se diz que Ronda' foi censurada por motivos políticos. O motivo foi outro."

A encenação remetia ao teatro de revista, popular, mas o projeto de Zampari tinha "um modelo de modernidade ligado ao realismo, que não ofenderia a plateia burguesa". A maior prova vem das montagens propostas por Celi e pelos demais e recusadas seguidamente.

"Não haveria cena épica no TBC", diz Vannucci, que levantou a lista. "Brecht deixou de ser montado, Shakespeare também. Tem aí uma razão ideológica. Não diria política, mas ideológica. Uma visão materialista ou mais crítica da realidade poderia perturbar aquela serenidade."


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