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Crítica - História

Ensaios de Lord Acton matam sede de conservadores liberais

Coletânea de pensador do século 19 aborda história, política e literatura

LORD ACTON VEIO DE UM MUNDO QUE NÃO EXISTE MAIS, DE UMA ARISTOCRACIA ERUDITA, MUITAS VEZES LIBERAL E 'GLOBALIZADA'

LUIZ FELIPE PONDÉ COLUNISTA DA FOLHA

É conhecida a definição do britânico Edmund Burke (1729-1797) da sociedade como uma comunidade de almas que reúne os mortos, os vivos e os que ainda vão nascer.

E por que começar uma resenha sobre os ensaios de Lord Acton com uma referência a Edmund Burke? Porque esse é o leito do qual brota o pensamento deste intelectual britânico liberal-conservador.

Apesar da pobreza de nossa bibliografia conservadora e da pobreza, muitas vezes, do debate público, não só apenas da esquerda, mas mesmo entre aqueles que muitas vezes querem (com um certo tom de ridículo) possuir o "rebanho conservador", tem crescido o número de títulos clássicos entre nós.

A editora Topbooks, em parceria com o Liberty Fund (entidade americana que financia publicações e eventos para difusão da educação clássica, liberal e conservadora), acaba de lançar os "Ensaios - Uma Antologia", de Acton.

John Emerich Edward Dalberg-Acton (1834-1902) seria hoje italiano, por ter nascido em Nápoles, Itália. Seu pai era egresso de uma família tradicional inglesa e sua mãe de uma família da Renânia, aparentada dos Habsburgos.

Mas, na época em que nasceu, essas obsessões com passaportes nacionais ainda não faziam parte do sistema de identidades. Tal detalhe é importante para entendermos de qual mundo este aristocrata veio: um mundo que hoje não existe mais, aquele de uma aristocracia erudita, muitas vezes liberal e "globalizada", pelo menos nos limites do continente europeu.

Lord Acton falava e lia fluentemente italiano, inglês, francês e alemão. Em razão do segundo casamento de sua mãe, ele foi para a Inglaterra e lá realizou sua obra, marcada pela erudição e por ensaios sobre história, política, filosofia, literatura e religião. Alguns desses compõem a coletânea que nos chega finalmente.

Sua filiação à linhagem de Edmund Burke é clara. Burke será o fundador do que nos acostumamos a denominar de conservadorismo liberal ou britânico, diferente do conservadorismo continental europeu, de cepa reacionária.

Como bem diz Mary Del Priore, que assina a bela introdução da edição brasileira, esta forma de pensamento se sustenta em três pilares (todos eles burkeanos): a sabedoria política sustentada na tradição coletiva como a história das instituições, a organicidade da sociedade que ultrapassa suas "partes" e o ceticismo político aplicado à linhagem racionalista e revolucionária rousseauniana (as "teorias de gabinete" das quais falava Burke).

Enfim, mais uma gota de água para nossa sede.


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