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Crítica serial

LUCIANA COELHO coelho.l@uol.com.br

'Hannibal' vale teste de estômago do público

Versão para a televisão do suspense sobre psiquiatra canibal é sedutora, assim como o seu protagonista

"HANNIBAL", A SÉRIE, é como Hannibal, o personagem: você não engole bem de início, acha fria, meio insossa, e até repulsiva nos momentos sangrentos (que não faltam). Mas vai envolvendo, seduzindo, até que, quando você nota, foi fisgado.

O resultado é que o drama inspirado em "Dragão Vermelho" (Edições BestBolso) teve o episódio final de sua segunda temporada, exibido nos EUA dia 23 e programado no Brasil para o próximo dia 9 no AXN, chancelado pelos espectadores com uma rara (e merecida) nota dez no site-referência sobre cinema e TV IMDb.

"Dragão Vermelho", de Thomas Harris, e a série de TV são o preâmbulo dos livros que originariam o oscarizado "O Silêncio dos Inocentes" (1991), com Anthony Hopkins como o psiquiatra canibal que mantém uma delicada relação de mentor com a agente do FBI Clarice Starling (Jodie Foster).

Em "Hannibal", nós o encontramos mais jovem, na pele do excelente ator dinamarquês Mads Mikkelsen, em um duelo psicológico com seu paciente Will Graham (Hugh Dancy), um sujeito convidado pelo FBI a desvendar crimes porque tem empatia com psicopatas.

Se o espectador sabe quem Hannibal é, os demais personagens ignoram. Mas é a dúvida sobre o caráter e a sanidade de Will que cria o suspense para quem assiste.

Também nebulosa é a consciência que o chefe de ambos (o incrível Laurence Fishburne, de "Matrix"), um agente do FBI consumido pela culpa, tem desse jogo. Entre os personagens, entregues a um elenco eficiente que inclui Gillian "Scully" Anderson, os graus de inocência variam, sem nunca chegar a zero.

O poder de manipular e as dúvidas sobre quem está no controle, afinal, são o prato principal da série. O acompanhamento é a solidão inescapável dos protagonistas, sempre em busca de uma família avessa. E como se trata de uma narrativa para a TV aberta dos EUA estrelada por psiquiatras, tudo isso vem não só carregado de simbolismo, como constantemente explicado para se tornar palatável.

Para apreciar a dramaturgia de "Hannibal", porém, é preciso encarar as grotescas cenas de crimes, ora puro terror, ora versões turbinadas dos crimes de Dick Vigarista (só quem amarrava Penélope Charmosa em trilhos pensaria em assassinatos que envolvam roldanas).

Superada essa crueza, tem-se um terror psicológico de primeira. O criador da série, Bryan Fuller, já mostrara queda pelo macabro com as subapreciadas comédias "Pushing Daisies" e "Dead Like Me". No drama, sai-se melhor, exibindo uma habilidade em amarrar pontas e surpreender que falta a séries assim (alô, "Dexter").

Mesmo as cenas à mesa, quem diria, ganham aos poucos um refinamento que cativa o espectador com estômago. A cozinha de "Hannibal" dá de dez em qualquer programa de culinária, e a série tem até consultor gastronômico (o espanhol José Andrés, estrela das panelas em Washington).

Pareceu indigesto? A terceira temporada vem em 2015. Vale provar.


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