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Fala que eu te escuto

Banido há mais de 50 anos, ponto eletrônico volta aos palcos para ajudar atores a lembrar as falas; artistas o consideram 'maravilhoso'

NELSON DE SÁ DE SÃO PAULO

Pedro Paulo Rangel, 65, diz que se adaptou "espetacularmente" ao ponto eletrônico. Para Regina Duarte, 67, "é um recurso excelente, para situações emergenciais". Para Vera Barreto Leite, 78, "uma experiência maravilhosa".

Mais de 50 anos atrás, o ponto --pessoa que sopra o texto para os atores quando eles esquecem o que falar-- foi escorraçado do teatro. Agora ressurge, aqui e ali.

Até meados do século 20, as grandes estrelas dominavam o teatro, e suas personalidades se sobrepunham aos textos, abusando das improvisações. A modernização exigiu maior conhecimento das peças e o aprofundamento dos personagens.

"Nós aposentamos o ponto, completamente", conta Fernanda Montenegro, 84, com orgulho. Ela estreou no palco em 1952, e a primeira instrução que ouviu foi "aprender a ouvir o ponto".

Ela não quis, e nunca o usou, porém: "Eu não tenho nada contra. Vi o ponto naquela tendinha, na boca de cena, e estou vendo o ponto já eletrônico. Depende da capacidade de adaptação".

Fernanda sublinha que, "de qualquer maneira, o ator tem que saber o que vai falar". De preferência, deve ter "na cabeça toda a estrutura da fala, os tempos".

Filha e sobrinha de duas atrizes que modernizaram o teatro no Brasil com Nelson Rodrigues, "as Barreto Leite", Vera acompanhou das coxias, ainda criança, a aposentadoria do ponto.

E ela resistiu, no começo. "Mas aí me falaram: Você não vai pôr ponto para saber o que dizer, mas para ouvir as deixas", as falas que antecedem as suas. Agora Vera quer convencer seu próprio diretor a usar. "Para mim, foi uma coisa fantástica, tanto que eu disse: Zé [Celso], pelo amor de Deus, é muito bom."

Regina Duarte alerta, porém, que "é um instrumento de difícil utilização", e o ator precisa conhecer bem o texto. "É uma arte. Tem que saber ouvir e falar ao mesmo tempo de forma natural, no ritmo adequado."

Sem "esquecer que tem sempre um zumbido incômodo", além do "risco de interferências, rádio etc.".

Outros atores procurados para falar sobre o ponto, que se tornou corriqueiro no teatro, preferiram não comentar suas experiências.

"Eu uso direto, há uns cinco anos", conta Rangel. Ele toma um remédio "que afeta a memória", dificultando decorar. Não usa para televisão, com menos texto e "perecível", só para o teatro.

"Numa peça, é no mínimo uma hora e meia de texto e não dá para vacilar", comenta. "Para mim, não mudou nada. E ninguém nota. Só fiquei com raiva de não ter descoberto antes [risos]."


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