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Ponto é 'coisa meio vergonhosa', diz diretor

Ron Daniels afirma que uso é raro nos palcos dos EUA e da Inglaterra e que esquecer o texto é 'pesadelo secreto' do ator

A atriz Tônia Carrero já usou o recurso no teatro, assim como Gérard Depardieu e Vanessa Redgrave

DE SÃO PAULO

Tônia Carrero, 91, que estreou no teatro quando o ponto foi abandonado, precisou dele para a sua mais recente interpretação, em "Chega de História", de 2005.

Seu ponto foi a sonoplasta Aline Meyer. "Foi a primeira vez em que Tônia usou, então teve toda uma adaptação, um tempo de aprendizado, nos ensaios", conta.

E durante a temporada "era uma emoção forte todos os dias", pela imprevisibilidade das falas em que a atriz precisaria de ajuda e também por sua resistência.

"Era totalmente contra o ponto, totalmente contra", diz Meyer. "Era sinônimo de derrota." Só aceitou porque, embora dividisse o palco com Nilton Bicudo, ficava sozinha durante quase uma hora.

A sonoplasta diz que hoje há atores para os quais "o ponto lê a peça inteirinha", mas não foi o caso. "Era quando a memória falhava, quando tinha uma empolgação maior e ela se perdia."

Tanto Meyer como o ator Rafael Augusto, que foi ponto de Pedro Paulo Rangel, sublinham que a leitura deve ser "a mais branca possível, sem procurar sentido".

O ponto também não deve levar em consideração pontos e vírgulas, "só a respiração mesmo, entre uma fala e outra". Augusto diz que a leitura "não atrapalha em nada" a interpretação.

VALE TUDO

Tônia, Rangel e Vera Barreto Leite não estão sós no reconhecimento do ponto. No exterior, grandes atores já recorrem a ele, abertamente. Gérard Depardieu, 65, ao usá-lo pela primeira vez em 2005, provocou: "Eu amo a tecnologia. É o futuro".

Mas a reação foi grande e, no ano passado, o ator francês optou pela peça preferida das estrelas que esquecem falas, "Cartas de Amor" --em que as cartas são lidas.

Vanessa Redgrave, 77, e Angela Lansbury, 88, já pediram para usá-lo, na Broadway. Também Michael Gambon, 73, o Dumbledore na série "Harry Potter", passou a usá-lo neste ano, depois de ser até hospitalizado, duas vezes, por tensão ao esquecer falas nos palcos ingleses.

Segundo Ron Daniels, diretor brasileiro estabelecido desde os anos 1960 no teatro da Inglaterra e dos EUA, o ponto ainda é raro, "só em emergência, um monólogo gigantesco". Até porque "é coisa meio vergonhosa".

Ele diz que "esquecer o texto é o pesadelo secreto do ator, grandes atores sofreram ou sofrem desse horror". Lista Michael Redgrave (1908-85), Ian Holm, 82, e até mesmo Gary Oldman, 56.

"É por isso que o Gary não faz mais teatro", conta Daniels, que defende o uso do ponto eletrônico. "Se for só com ele que um grande ator pode dar mais um desempenho inesquecível, claro, não há problema nenhum. Vale tudo no amor, na guerra e no teatro."


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