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Crítica - Drama
Roteiro compromete filme sobre crise conjugal
'Antes do Inverno' tem boa dose de mistério, mas seus personagens cheios de bons sentimentos não convencem
Em seu terceiro longa, o romancista, roteirista e diretor Philippe Claudel aborda as relações humanas dissecando a vida cotidiana de um casal da alta burguesia que desmorona aos poucos.
Com uma boa dose de mistério, o drama conjugal tem inflexões de thriller em alguns momentos, mas avança de modo monocórdio, sem a pulsação que o gênero pressupõe.
Paul (Daniel Auteuil) é um neurocirurgião renomado na casa dos 60 anos, casado há décadas com Lucie (Kristin Scott Thomas).
Tudo parece perfeito na vida do casal até que, subitamente, Paul encontra a enigmática Lou (Leïla Bekhti), uma jovem que afirma ter sido sua paciente quando era criança.
Todos os dias, em casa, no consultório ou no hospital, Paul recebe um buquê de rosas sem remetente.
As flores anônimas envenenam a relação do casal, mostrando o quão vulnerável era sua felicidade: o médico se põe a fantasiar sobre outra vida que poderia ter tido, entrando em uma crise existencial, enquanto a sua mulher afunda em uma angústia muda, sinuosa e bem-comportada.
A dupla de atores tem um desempenho irrepreensível, mas seus personagens, cheios de bons sentimentos, não convencem.
O problema maior do filme está no roteiro, que peca pela falta de ritmo, por não construir personagens verossímeis e por deixar muita coisa envolta nas brumas do subentendido.
Apesar dos esforços de Daniel Auteuil, os tormentos de seu personagem parecem algo distante do espectador.
Prisioneiro de ilusões difusas, o médico vê a sua vida se decompor, mas não perde nunca a compostura, não parece efetivamente se inquietar com o que acontece. Abrupta, a reviravolta final também é difícil de engolir.