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Crítica - Drama

Argentina narra 'vida comum' de nazista sem maniqueísmo

O FILME EXPLORA O MODO COMO AS PESSOAS PODEM SIMPATIZAR COM IDEIAS NAZISTAS E COMO SE DÁ A DISSEMINAÇÃO DA IDEOLOGIA

SYLVIA COLOMBO DE SÃO PAULO

Quando se ouve falar da presença de nazistas na América do Sul, fugindo após a derrota alemã na Segunda Guerra Mundial, é comum imaginar que viveram em esconderijos. A história não é bem assim.

Adolf Eichmann (1906-1962) viveu quase dez anos num bucólico subúrbio de Buenos Aires com a família. Erich Priebke (1913-2013) era admirado pela sociedade de Bariloche, também na Argentina, onde passou nada menos que cinco décadas.

Com apoio de governos e de setores da sociedade, os nazistas conviveram com famílias locais e puderam reconstruir uma vida por aqui.

"O Médico Alemão" conta uma história ficcional a partir de fatos reais sobre a passagem do médico Josef Mengele (1911-1979) pela Argentina em 1960. Conhecido por suas experiências genéticas nos campos de concentração, Mengele morreria afogado numa praia em Bertioga (SP).

No filme de Lucía Puenzo, o médico se aproxima de uma família que está reabrindo uma pousada na Patagônia. O doutor se oferece para ajudar a filha do casal, Lilith, de 12 anos, a crescer com um tratamento de hormônio.

O homem e a menina estabelecem, então, uma relação de forte sugestão sexual, revelando o interesse da diretora em explorar as relações entre sentimentos e ciência, como em "XXY" (2007), sobre uma garota hermafrodita.

A mãe de Lilith, Eva (Natalia Oreiro), tem simpatia pelo doutor, a quem confia também a saúde de seus bebês gêmeos. Já o pai (Diego Peretti) desconfia do médico, mas busca também ele construir uma beleza artificial através das bonecas que monta.

A relação se quebra quando uma agente do Mossad (serviço secreto israelense), baseada na personagem da vida real Nora Edloc, começa a investigar o alemão, que decide fugir.

Filmado em belas locações em Bariloche, o filme escapa do maniqueísmo e explora o modo como as pessoas podem simpatizar com ideias nazistas pelo lado humano.

Despolitizando e tratando do delicado tema por meio de ansiedades e expectativas comuns, a diretora questiona a responsabilidade social da disseminação dessa ideologia demoníaca.


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