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'Sem Caetano Veloso acho que eu nem existiria', diz Jorge Mautner

Amigos há 45 anos, os dois dividem o palco em três shows neste fim de semana em São Paulo

'Eu Não Peço Desculpa', álbum gravado pela dupla em 2002, será a base do repertório das apresentações

THALES DE MENEZES EDITOR-ASSISTENTE DA "ILUSTRADA"

Jorge Mautner, 73, cantor, compositor e escritor, diz que busca no seu dia a dia "saúde para viver". "Faço minha ginástica, posturas medicinais do tai chi chuan, fico um tempão nisso. E escrevo, dou palestras, faço show..."

Este fim de semana é de shows. Em São Paulo, com Caetano Veloso, seu amigo desde 1969, quando se conheceram em Londres, no exílio.

Será o lançamento da caixa "Três Tons de Jorge Mautner", reedição de seus três primeiros LPs (de 1972, 1974 e 1976). No entanto, a maior parte do show será dedicada ao repertório de "Eu Não Peço Desculpa", álbum que eles gravaram juntos em 2002.

Em julho, Mautner começa a gravar novo disco. Será o primeiro sem Nelson Jacobina (1953-2012), seu parceiro desde a estreia fonográfica, que morreu de câncer.

Mautner fala de Jacobina, Caetano e os músicos jovens.

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O primeiro disco
Nesse disco, "Para Iluminar a Cidade", a gravadora conseguiu, ao usar uma capa de duas cores no lugar de quatro, baratear o produto. Também gravar ao vivo, fora do estúdio, deixou mais barato. Os discos custavam 30 cruzeiros e esse tinha na capa a inscrição: "não pode ser vendido acima de 15 cruzeiros".
Essa primeira banda já tinha o Nelson Jacobina, que conheci nessa época. Fui fazer uma palestra sobre música e Nietzsche, na escola Villa-Lobos. Lá as coisas eram avançadíssimas, um foco total de redemocratização. Encontrei estudantes nus, rastejando no chão, numa aula de matemática. E o Nelson.

Anos 1970
Chamaram Gil, Caetano e a mim para voltar porque o povo caiu num pessimismo e só pela voz dos intérpretes passaria uma redemocratização. Então os shows demoravam muito tempo, eram três horas, às vezes quatro, para as pessoas se encontrarem.

O show do fim de semana
Vou abrir com algumas músicas dos primeiros discos, umas quatro. Aí Caetano entra e canta duas no violão. A partir daí é um show de nós dois, com as músicas que foram gravadas em 2002, no meu disco com ele, "Eu Não Peço Desculpa". Cantaremos "Vampiro", é claro. A primeira vez que essa música apareceu foi no filme "Demiurgo", que eu dirigi em 1969, com o Caetano cantando.

A importância de Caetano
Total. Sem Caetano Veloso acho que eu nem existiria. E Gil, claro. São fundamentais. Nosso encontro em Londres foi histórico. Sou o "avô" do tropicalismo, que é o amálgama em sua plenitude. Minha aliança com Caetano é total, são 45 anos de constante e absoluta amizade.

A nova geração
Tenho muito contato com a nova geração. Ficou mais fácil ainda, pela internet. Essa garotada se informa imediatamente. É maravilhoso, eles já nascem com os neurônios saltitantes. Tem um grupo novo, incrível, chamado Exército de Bebês, que deve participar do disco que vou começar a gravar em julho. Deve ficar pronto no fim do ano. Vai ser um trabalho com Berna Ceppas e Kassin.

"Não vai ter Copa"
Como vejo as manifestações? Existe tudo junto, é a simultaneidade. A manifestação é a exuberância democrática. Você vê, tem demonstração, tem o outro lado, minoria, que se excede, naquele teatro agressivo de Baader-Meinhof dos black blocs, que está errado, mas isso é superado, porque a maioria quer é direitos humanos. Tem Copa, tem manifestação, tem tudo. É simultaneidade.

Nelson Jacobina
A falta dele é muito grande, mas a presença é ainda maior. Era meu parceiro 25 horas por dia, não era só na música. Ele teve câncer e uma metástase violenta, de quatro anos, os remédios já não funcionavam para amenizar a dor.
Nosso último show foi em Jacareí (SP), quando nós demos bis de uma hora e 12 minutos. Era impressionante, porque as dores só paravam quando ele tocava.


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