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'Caetano, Gil e eu'

Trecho de texto que Mautner escreveu em 1971, no 'Pasquim', sobre como conheceu os baianos no exílio

Eu e Ruth fomos pra Londres subitamente, num avião a jato. E foi lá, foi lá que eu conheci Caetano e Gil. Eu entrei de guarda-chuva na casa de Caetano e disse uma profecia. O Caetano ficou impressionado e disse tremulamente: "Você é profeta, é?" Eu disse, mais tremulamente: "Bem, não são bem profecias, são análises, análises totalizantes que incluem muitas coisas, por exemplo..." E falei, falei. Gil disse: "Ei, nêgo, você toca bandolim, é?" E eu timidamente no dia seguinte trouxe meu bandolim e tocamos, tocamos, noites, dias, e a lua sumia na névoa londrina. Aquele relax londrino com juventude sensual imitando os Rolling Stones pelas ruas do ex-império a passear.

Com Caetano, eu tocava (acompanhando fazendo ecos e fraseados) sambas antigos, de Noel e Caymmi, de Ismael Silva e Ary Barroso, todo aquele repertório popular de Caetano. Com Gil, eu tocava acompanhando o seu novo som africano-rock-heavy-brazilliance-electricity. Às vezes predominava o jazz, às vezes rock & baião.

Falava-se muito de tudo. Inumeráveis discussões sobre Nietzsche, Hegel, estruturalismo, discos voadores, Dionisius e Apolo. Eu, um mitólogo massagista e lavador de pratos em New York, de repente na Bahia em plena Londres! Um dia o Caetano ao ouvir eu cantar uma canção minha chamada "O Vampiro", ficou entusiasmado e disse que ia gravar. Eu fingi que não havia escutado e só quando ele repetiu é que eu me manifestei em sorrisos chineses e cortesias que tais. Eu sou uma estranha mistura do século 19 e do 21, pulando o 20. Os baianos são o mel, a bondade, a ternura, o cristianismo, a generosidade, o amor de um Brasil que só agora descobri através deles. Então eu disse para Caetano e Gil: "VOCÊS ME TIRARAM DA LAMA".


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