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Mostra vê eco dos neoconcretos no mundo

'Artevida' cria diálogo entre obras de Lygia Clark, Hélio Oiticica e Lygia Pape e trabalhos de países periféricos

Embate entre o corpo e a geometria são tema de criações de artistas do sul global, da América Latina ao Oriente Médio

SILAS MARTÍ ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Um enorme cubo vermelho está suspenso sobre a piscina do pátio do Parque Lage, num contraponto geométrico à exuberância da mata do Jardim Botânico, no Rio. A obra da japonesa Tsuruko Yamazaki também vira pano de fundo de "selfies" de quem passa por ali num dia de sol.

Essa escultura que abala o ambiente ao seu redor, virando o foco das atenções, pode sintetizar a ideia por trás da megamostra "Artevida", em cartaz ali, na Casa França-Brasil e na biblioteca Parque Estadual, no centro do Rio.

Explícita já no nome da exposição, idealizada pelos curadores Adriano Pedrosa e Rodrigo Moura, está a ideia de que a arte não se separa da vida, noção abraçada por neoconcretistas como Lygia Clark, Lygia Pape e Hélio Oiticica.

Não à toa, a obra desses três artistas, pilares da chamada estética relacional, ou seja, de trabalhos que exigem a presença e a participação do público, serve de matriz conceitual para essa mostra.

É fato que a trinca Clark-Pape-Oiticica vem sendo incensada em exposições pelo mundo como espécie de time dos sonhos da arte do país --Clark tem agora ampla retrospectiva no MoMA, em Nova York--, mas aqui seus trabalhos fazem um papel inverso.

Estão ali menos como uma presença arrebatadora e mais como chave de leitura para obras de outros artistas mundo afora, que no mesmo período, dos anos 1950 aos 1980, também criaram embates entre corpo e geometria.

É o caso de Yamazaki, que fez parte do Gutai, um grupo japonês com experiências plásticas em muitos aspectos análogas às dos neoconcretistas na virada dos anos 1950 para a década de 1960.

"Não estamos traçando genealogias, mas buscando conexões e leituras transversais", diz Pedrosa. "Essas obras que articulam uma relação entre arte e vida parecem ser a grande contribuição do Brasil para o mundo."

Na Casa França-Brasil, onde está concentrada a maior parte da mostra, esse desejo de uma arte capaz de romper com a natureza estática de pinturas e esculturas e abraçar o movimento do corpo, em toda a sua volúpia, aparece com uma força maior.

Estruturas metálicas da alemã Charlotte Posenenske, que usa tubos de circulação de ar para criar esculturas que se adaptam à arquitetura que habitam, dialogam com os "Bichos" de Clark, suas famosas criaturas manipuláveis, de chapas de metal articuladas por dobradiças.

Da mesma forma, a série "Tecelar", em que Pape desenhou linhas retas em contraste com traços em direções opostas, serve de espinha dorsal de uma parte da mostra em que a geometria é abalada por elementos orgânicos.

Ou seja, as obras da brasileira encontram eco nas cruzes que a chilena Lotty Rosenfeld desenhou no asfalto e nas peças minimalistas da indiana Zarina Hashmi e da americana Rosemarie Castoro.

OBRAS REENCARNADAS

Esse embate fica ainda mais nítido na série de obras da mostra articuladas em torno do "Parangolé", de Oiticica, as capas coloridas que o artista inventou como espécie de escultura para vestir.

Nesse ponto, a mostra faz um poderoso apanhado de peças que, mesmo criadas em pontos distintos do mundo por autores que nem sempre tiveram contato, guardam semelhanças assombrosas.

É o caso da obra do italiano Claudio Perna, que criou tiras de tecido colorido envolvendo o corpo nu, quase uma reencarnação do "Parangolé" num registro mais erótico.

"Tentamos bucar uma conexão com polos de produção com condições históricas parecidas com as nossas", diz Rodrigo Moura. "Quisemos desarmar o modelo de se filiar à tradição ocidental."


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