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Afogada em Ibsen

Em nova montagem de 'A Dama do Mar', que estreia nesta semana no Rio, protagonista fica imersa em aquário

GABRIELA MELLÃO COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Um aquário de três metros de altura por 1,2 m de comprimento materializa a relação simbiótica entre a água e a protagonista de "A Dama do Mar", na nova montagem deste clássico do norueguês Henrik Ibsen (1828-1906).

A peça, dirigida por Paulo de Moraes, estreia nesta quinta (3) no Rio.

Nela, a água surge abundante. Não é usada apenas como representação da força do feminino ou da fantasia de Ellida --a personagem do título-- com um homem do mar, seu amor antigo.

Ellida vive a glória e a ruína da sua vida mergulhada em 2.500 litros de água. No papel, Tânia Pires fica até 20 segundos sem respirar. Protagoniza cenas de amor no aquário de acrílico. Nele, também ensaia sua morte.

"O aquário permite a construção de uma imagem que é uma epifania da tragicidade do destino de Ellida, e atinge o cerne do drama de Ibsen", diz Maurício Arruda Mendonça, adaptador da montagem.

Segundo De Moraes, também responsável pelo cenário, a função do aquário também é a de fazer o público sentir o conflito na pele.

Na sua visão, a transposição literal para o palco dessa relação entre a mulher e a natureza aproxima o texto de Ibsen do público, tornando-o menos mitológico, mais real.

Essa montagem de "A Dama do Mar" não poderia ser mais distinta da criada pelo americano Bob Wilson em 2013 no país, com atores brasileiros.

Como de hábito em seu trabalho, Wilson se afastou da linguagem dramática e do naturalismo. Construiu um mundo de sonho distendendo o tempo em cena através da contenção de gestos e de um belo cenário geométrico.

UNIVERSO FEMININO

A atormentada Ellida vive dissociada de seus desejos. Presa a uma paixão do passado, é casada com um viúvo mais velho que ela. Sente-se uma sereia agonizante, criatura marinha encalhada numa família humana.

Ela luta para se reconciliar com seus anseios como as heroínas de "Casa de Bonecas" e "Hedda Gabler" --outros textos em que o autor, um dos maiores dramaturgos do século 19, antecipa o processo de emancipação da mulher.

"A busca da mulher por liberdade e o julgamento de seu comportamento são questões centrais da trama, ainda atuais no universo feminino", afirma De Moraes.

A atriz Tânia Pires compara a força instintiva de Ellida à de um animal. "Ela é livre na mais pura essência. Não se importa com normas ou o que os outros pensam", diz ela, que treinou natação para alongar seu tempo de apneia dentro do aquário.

"Também precisei aprender a jogar meu corpo solto na piscina sem deixá-lo subir até a superfície", conta.

Em sua adaptação, Mendonça põe lupa na discussão sobre liberdade feminina proposta por Ibsen, ajustando o texto ao paladar atual.

"O original é excessivamente verborrágico a ponto de o objetivo dramático ficar diluído, sem contundência."

O autor tentou se concentrar na essência do drama. "Procurei atenuar o melodrama quando ele comprometia uma emoção mais delicada, mais rica", diz Mendonça.


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