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Corpo em crise

Bailarino japonês Min Tanaka mostra em São Paulo seu projeto 'Locus Focus', em que reinventa a dança com movimentos inspirados no butô e na história de cada lugar em que se apresenta

IARA BIDERMAN DE SÃO PAULO

O bailarino japonês Min Tanaka, 69, um dos três grandes nomes do butô, vai se apresentar pela segunda vez no Brasil, após um intervalo de quase duas décadas.

Ele chega na semana que vem a São Paulo com seu projeto "Locus Focus" (foco no lugar), que já levou a vários países da Ásia, da África e da Europa. O espetáculo foi apresentado em bosques, praças, centros urbanos e zonas rurais.

Junto com Tatsumi Hijikata (1928-86) e Kazuo Ohno (1906-2010), Tanaka esteve nas origens do butô, movimento artístico que buscou um entendimento novo do corpo, unindo influências das vanguardas europeias e das tradições japonesas para reinventar a dança.

Com Hijikata, criador do "ankoku butô" --dança das trevas-- ele penetrou nesse corpo em crise que o butô tenta expressar.

"O butô aponta para as trevas humanas e para a história deste tempo de trevas", afirma Tanaka, em entrevista por e-mail à Folha.

"Esta dança diz respeito à sua gênese, que se refere à resistência do ser humano, sua capacidade de se reinventar, pois nasceu da experiência de destruição de um país inteiro (o bombardeio nuclear no Japão em 1945)", diz a atriz Denise Stoklos, que trabalhou em Tóquio com discípulos de Hijikata e Ohno.

Segundo o bailarino mineiro Marcelo Gabriel, que estudou com Kazuo Ohno, o dançarino de butô se joga em abismos interiores para entrar em contato com a pura presença do corpo e romper seus limites --"como um cadáver que se levanta", nas palavras de Hijikata.

Mas Tanaka não se prende ao rótulo de dançarino de butô. "Não quero um método preestabelecido. O movimento humano não tem mais nada de novo, tudo já foi mostrado", diz.

Ele tampouco se restringe à dança em seu trabalho artístico e é também famoso por sua atuação no cinema. O último trabalho foi o longa "47 Ronins" (2013), em que atuou ao lado de Keanu Reeves.

Não que isso o afaste do butô, que, em suas origens, envolvia artistas de diversas áreas. "A vanguarda incluía gente da fotografia, do cinema. O butô era parte do contexto cultural do Japão e do mundo nos anos 1960", diz Christine Greiner, professora de comunicação e artes do corpo da PUC-SP.

O cinema, para Tanaka, é como o trabalho que faz na fazenda orgânica que fundou nos anos 1970 na área rural do Japão. "É uma expressão humana, portanto, é sobre algo que existe antes da arte'. Não quero deixar o corpo perder o contato com o que é a própria história da humanidade".

No solo que vai apresentar em São Paulo, a inspiração é o próprio local onde dança. "Eu não danço EM um lugar, eu danço O lugar, que tem uma história e um tempo que não é o meu."

"Locus Focus' começa e termina com a afirmação que só o corpo vivo existe. É impossível apenas assistir à dança de Min Tanaka. O seu corpo, mesmo que pareça estar em um sono profundo ou mesmo morto, força o espectador a ficar mais acordado e mais vivo do que nunca", diz Kuniichi Uno, professor de artes do corpo e do movimento da Universidade Rikkyo (Japão).


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