Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria
Mostra com 41 filmes apresenta as várias faces da obra de Fritz Lang
Ciclo no Centro Cultural Banco do Brasil reúne de aventuras a longas do expressionismo alemão
Cineasta faz críticas à condição do homem e à democracia, num discurso que mantém sua produção atual
O ano de 2014 parecia ainda não ter começado sem uma mostra de cinema capaz de fazer até o mais preguiçoso sair de casa cedo para disputar um dos 70 lugares da sala do CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), em São Paulo. O ano finalmente dá as caras com a retrospectiva "Fritz Lang "" O Horror Está no Horizonte".
O ciclo reúne, a partir desta sexta (11), exibições em película de todos os 41 títulos sobreviventes da filmografia do diretor que atravessou o século 20, da Europa aos EUA, criando formas e investigando temas que definem o homem moderno.
Vida e obra de Lang são contemporâneos do que se convencionou chamar de modernidade. Lang nasceu em Viena, em 1890, e estudou para ser arquiteto, como seu pai queria, mas largou tudo e, após dar a volta em meio mundo, parou em Paris, pouco antes de o mundo que conhecia começar a acabar em 1914.
Ele entrou no cinema como roteirista. Seu visionarismo, porém, o levou à direção, onde se estabeleceu como o equivalente a Alfred Hitchcock em termos de inventividade.
Depois de uma década compondo e sofisticando o estilo batizado de expressionismo alemão, Lang escapou do assédio de Hitler e se tornou um dos mais maleáveis diretores de Hollywood, onde filmou dramas, policiais, aventuras, faroestes, filmes de guerra e até um romance nos 20 anos seguintes.
VERSATILIDADE
De 1919 a 1960, mudou de face quantas vezes foi preciso, mas manteve uma ênfase crítica à condição do homem, sempre confrontando-o com forças que o ultrapassam e, por fim, o aniquilam.
Nos anos 1920, Lang filmou aventuras, histórias que ele chamou "de sensação". De "A Morte Cansada" (1921) a "A Mulher na Lua" (1929), ele concebeu grandes sinfonias visuais no cinema silencioso, filmes cuja arquitetura cênica fundam a tradição espetacular tão decisiva no cinema que mais vemos hoje.
Com o advento do som, Lang amplificou o conceito de realismo para além do mero registro de diálogos e apontou rumos muito mais expressivos para a nova técnica com "M., o Vampiro de Düsseldorf".
Ao mesmo tempo, ele vinha, desde o díptico "Dr. Mabuse" (1922) captando as forças que minavam de dentro o modelo civilizatório europeu, dando expressão à crise que triunfa na destrutividade do nazismo.
Quando escapou para a América, Lang não enxergou na democracia um antídoto ao totalitarismo, nem na civilização uma defesa contra a barbárie.
"A ocorrência recente de linchamentos e de brutalidades nos lembra que os filmes de Lang são atuais, além de sua importância histórica. Por isso batizamos a mostra de O Horror Está no Horizonte'", diz João Gabriel Paixão, um dos curadores do ciclo.