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Crítica - Rock

Morrissey vira ombudsman do mundo em CD

Músico deixa as pequenas misérias da vida e adota tom professoral para falar sobre grandes temas como paz mundial

ALGUMAS LETRAS CONSTRANGEM E PARECEM TER SIDO FEITAS POR ALGUM IMITADOR DO ARTISTA, COMO A QUE DIZ: 'OS RICOS PRECISAM FATURAR E FICAR MAIS RICOS'

ANDRÉ BARCINSKI ESPECIAL PARA A FOLHA

As melhores letras de Morrissey, desde a época dos Smiths, são as que transformam pequenos dramas do dia a dia em tragédias gregas.

Seja falando sobre um amante obsessivo que persegue o objeto de seu desejo ("The More You Ignore Me The Closer I Get", 1994) ou da timidez que impede alguém de abrir seu coração ("Ask", 1986), por exemplo, Moz sempre partiu do micro para falar do macro.

Sim, há exceções, como "Meat Is Murder", panfletária e exagerada apologia ao vegetarianismo, mas, no geral, são os pequenos conflitos que interessam a ele.

Acontece que, de uns anos para cá, o compositor parece ter embarcado numa egotrip exagerada até para sua conhecida ojeriza à modéstia.

Ano passado, exigiu que a editora Penguin lançasse "Autobiography", seu vitriólico e prolixo ajuste de contas com o passado, pelo selo "Penguin Classics", normalmente reservado a autores como Joyce, Dickens e Tolstói.

Em entrevistas, Morrissey tem deixado de lado seu humor ácido e assumido um tom professoral/revoltado, que não combina com sua inteligência.

Infelizmente, "World Peace Is None of Your Business", seu décimo disco solo, segue nesse toada de "ombudsman" do planeta. Morrissey parece querer se firmar como um analista de assuntos globais e esquece seu passado glorioso de cronista de nossas pequenas misérias.

O disco fala de temas "grandes" --paz mundial, opressão nas escolas, crueldade contra animais-- mas sem o senso de humor e a capacidade de enxergar a beleza e a tristeza das pequenas coisas.

Algumas letras chegam a ser constrangedoras. Parecem ter sido escritas por algum imitador dele. Como explicar "Os ricos precisam faturar e ficar mais ricos / e os pobres devem continuar pobres" ("World Peace Is None of Your Business")?

Musicalmente, o disco traz grande influência de sonoridades ibéricas --violão flamenco, acordeom. Mas nenhuma canção parece ter a pegada pop do Morrissey de outros tempos.


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