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Juca de Oliveira se joga sozinho em 'Rei Lear'

Ator se reveza em seis papéis na tragédia de Shakespeare adaptada para monólogo; 'A coisa toda é uma audácia', diz

Peça sobre o velho monarca que divide o reino entre as filhas estreia na sexta (18) no Teatro Eva Herz, em SP

FERNANDA REIS DE SÃO PAULO

Ao iniciar os ensaios para "Rei Lear", que estreia na sexta (18), Juca de Oliveira, 79, entrou em pânico e pediu o cancelamento do projeto.

O motivo da preocupação foi a originalidade da montagem: Geraldo Carneiro adaptou o texto de Shakespeare para um espetáculo solo. O único ator no palco é Juca, revezando-se em seis papéis.

"É uma experiência única, cujos resultados não se pode prever", diz. "Jamais um ator havia feito um monólogo dessa tragédia. A coisa toda é uma audácia."

O nervosismo passou em uma conversa com Carneiro, na qual Juca sugeriu algumas mudanças no texto que foram aceitas pelo escritor.

Apresentada pela primeira vez em 1606, a peça conta a história de um velho monarca que decide dividir seu reino entre suas três filhas.

Ao fazer a partilha, acaba sensibilizado com os discursos aduladores das ambiciosas Goneril e Regan e renega Cordélia, que diz não encontrar palavras para expressar seu amor pelo pai.

O tempo, no entanto, mostra que Cordélia era a única merecedora do trono e Lear cai em armadilhas montadas pelas outras filhas.

O Lear de Juca não contracena com ninguém. Enquanto narra sua tragédia ao público, dá voz aos outros personagens. Não há troca de roupas ou objetos cênicos.

"Não queria grandes concepções de cenografia ou figurino", explica o diretor Elias Andreato. "O artifício de mudar de personagem cabe ao Juca. Ele não precisa se paramentar."

Na visão de Andreato, "Rei Lear" é uma das tragédias de Shakespeare mais difíceis para um ator interpretar. "Tem humor, ironia, densidade trágica, muita coisa em jogo."

Juca diz ter visto, no Brasil, o "Rei Lear" de Paulo Autran e de Raul Cortez. De todas as versões, sua favorita foi a de Orson Welles, no filme de 1953 que ele viu pela televisão. Mas ressalta que não se inspirou em ninguém.

"Quando você toma um grande ator como modelo elimina a originalidade na sua criação. Jamais se deve pisar em pedras marcadas. É melhor ficar completamente perdido. Assim poderá, eventualmente, criar algo novo."

O ator diz que o tema da ingratidão filial mantém a peça atual. "Considero um erro, ou pelo menos um gesto excessivamente arrojado, a transferência em vida de bens para o nome dos filhos", diz.

"E assisti a vários amigos e conhecidos cometerem esse erro desaconselhado por Shakespeare no Rei Lear'."

Juca teve uma faringite que o deixou afônico às vésperas da apresentação e o fez cancelar dois ensaios abertos ao público. Mas estará recuperado para a estreia, avisa.


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