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Análise

Personagem é o sonho de bons atores, mas poucos sustentam o peso da coroa

LUIZ FERNANDO RAMOS ESPECIAL PARA A FOLHA

O peso de uma coroa. Rei Lear é desafio que atores bons sonham um dia enfrentar. Poucos alcançam o feito que exige, além de talento, o acúmulo dos anos e as marcas deixadas por ele.

No Brasil, nas quatro últimas décadas, além de Juca de Oliveira, três outros atores se lançaram nessa aventura.

Nos anos 1980, foi Sergio Britto (1923-2011) quem desbravou o caminho. Em 1983, aos 60 anos, Britto produziu uma encenação ambiciosa, a partir da tradução de Millôr Fernandes e dirigida por Celso Nunes de forma autoral.

Com Fernanda Torres estreando no teatro profissional como Cordélia, a encenação foi revista pelo próprio Britto, em suas memórias, como falhada, apesar de ter gerado vários prêmios --o principal, o de melhor ator para Ary Fontoura, no papel do Bobo.

Na década seguinte foi Paulo Autran (1922-2007) quem arriscou-se na pele do rei orgulhoso, que se desveste do poder sem medir as consequências de seu ato. A encenação de Ulisses Cruz se pretendeu cinematográfica e contou com cenário de Hélio Eichbauer, mas descuidou de valorizar o texto e o trabalho dos atores.

Particularmente Autran, com 74 anos, foi criticado por não encarnar a complexidade do personagem e só salvar-se no terço final da peça, quando Lear migra da loucura à lucidez. Mesmo assim, mais do que trágico, Autran pareceu melodramático.

No ano 2000 foi a vez de Raul Cortez (1932-2006), aos 68 anos, enfrentar Lear. Sob a batuta de Ron Daniels, especialista da Royal Shakespeare Company que traduziu e adaptou a peça, o espetáculo foi o mais canônico dos três. Talvez por isto, se Cortez cumpriu a desafiante escalada, não foi seu trabalho mais brilhante.

Ser Lear não é para iniciantes, mas a velhice tampouco garante por si a façanha.


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