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Mostra exibe filme sobre escândalo sexual envolvendo executivo do FMI
Paulínia inclui longa com Gérard Depardieu no papel de diretor acusado de violentar camareira
Ex-diretor do órgão disse que irá processar produtor e diretor por semelhanças com seu caso, ocorrido em 2011
Em "Bem-Vindo a Nova York", Gérard Depardieu vive Deveraux, um predador sexual. O executivo passa boa parte do filme em hotéis luxuosos, transando com prostitutas em orgias regadas a conhaque, sorvete e Viagra.
Numa das cenas, ele é acusado de estuprar a funcionária de um hotel, sepultando suas aspirações por concorrer à presidência da França.
O ex-diretor do FMI Dominic Strauss-Kahn, acusado de abusar sexualmente de uma camareira em 2011, anunciou em maio último que processaria os produtores e o diretor do filme, o americano Abel Ferrara ("Vício Frenético").
"Ele é uma figura pública e de fato foi preso por aquela acusação. E eu sou um artista. Não posso fazer um filme sobre a merda que acontece no mundo? Devo fazer só filmes sobre o Pato Donald?", diz Abel Ferrara à Folha. Ontem ele informou não ter recebido até agora qualquer aviso de seus advogados.
Segundo o cineasta, o filme mostra como instituições financeiras dominam o mundo. "O protagonista é um todo-poderoso que de repente se vê na prisão, onde precisa encarar tudo o que desprezava."
O diretor de 62 anos, famoso por obras sobre personagens violentos e corruptos, vem ao Brasil para exibir seu filme na mostra Imovision 25 Anos, que acontece a partir do dia 22 na programação do Festival de Paulínia, no interior de São Paulo, e a partir do dia 24 na capital paulista.
O filme de Ferrara desvia da hipótese de que o escândalo possa ter sido armado para Strauss-Kahn. "Era motivo para outro filme, cara. O personagem nunca percebe que a culpa é dele. Por isso que meus filmes são cheios de espelhos, porque ele precisa ver que a culpa é dele mesmo."
Encarcerado ou nas cenas de sexo, Deveraux grunhe como uma espécie de animal.
"Você terá de perguntar ao Depardieu por que ele fez esses grunhidos. Basicamente, ele é um cara grandão se movendo por aí, e o filmamos de forma realista", diz o diretor.
O filme mostra uma Nova York apartada do cartão postal, vivida em casas escuras, aeroportos e quartos de hotel. "Não é sobre o tipo de cara que sai para jogar tênis. É sobre gente que só trabalha e à noite vai atrás de garotas."
Lançado simultaneamente no cinema e em VoD (vídeo sob demanda), "Bem-Vindo a Nova York" ultrapassou a marca dos 100 mil downloads em dez dias, segundo sua distribuidora. No Brasil, deve chegar às telas em novembro.
"O fato de ser polêmico é um plus. O que me interessou é saber como o público vai reagir, se vai comparar com o caso verídico", afirma Jean Thomas Bernardini, dono da distribuidora Imovision, que selecionou o filme.
FESTIVAL DE PAULÍNIA
Além de Ferrara, a atriz Jacqueline Bisset, que faz a mulher de Depardieu no filme, é esperada na mostra da Imovision e no encerramento de Paulínia, no dia 27.
Segundo Ivan Melo, diretor do festival, a sexta edição procura internacionalizar o polo cinematográfico. "Queremos atrair coproduções para que venham filmar aqui."
Neste ano, o Festival de Paulínia volta também recauchutado. Em 2012, o prefeito José Pavan Jr. (PSB) cancelou a mostra por causa de queda na arrecadação municipal. No ano anterior, já havia interrompido os editais de fomento à produção no polo.
Com uma nova gestão no município, assumido por Edson Moura Jr. (PMDB), filho do prefeito que idealizou o polo e o festival, os investimentos foram retomados. Neste ano, o orçamento é de R$ 3,5 milhões. O festival destinará R$ 800 mil em prêmios a vencedores. Entre os filmes estão a nova produção de Domingos Oliveira ("Infância", com Fernanda Montenegro), o docudrama "Castanha", de Davi Pretto, e o musical "Sinfonia da Necrópole", de Juliana Rojas.